Liberdade para escolher. E para errar.

Alexandra Leitão. Foto: António Cotrim/Lusa. 
Filhos de trabalhadores da administração pública que tenham de se deslocar para estudar em Lisboa terão, em 2022, uma residência universitária com 47 camas, anunciou esta semana a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública.

Leio a notícia e os seus ecos durante todo o dia e continuo boquiaberta. Um Estado que destrata os seus cidadãos não é um Estado, é qualquer coisa com laivos sectários, mas não pode ser um Estado de bem. 

Diz a ministra Alexandra Leitão, por quem até tinha alguma consideração, que se trata de “uma medida solidária em relação aos trabalhadores da administração pública e às suas famílias, que obedece aos princípios enformadores da ação social complementar”. 

Sim, senhora ministra, é solidária com o eleitorado do Partido Socialista. É solidária com escolhas. É solidária com critérios meramente partidários. 

Mas, senhora ministra, ainda que a decisão política seja legítima, podia ao menos poupar-nos ao discurso insultuoso. 

Num momento dramático que o país atravessa, em que tantas famílias – do privado – nem sequer têm para comer, que dependem da ajuda social, que perderam os seus empregos ou estão prestes a ficar sem trabalho, que estão desesperados para alimentar filhos, o que o Governo deste país acaba de fazer com esta medida ridícula é passar um cheque em branco à tal Constituição da República sobre a qual a senhora e o seu Governo enchem a boca para invocar! 

É uma grande medida de esquerda! Mas guarde-a bem para si e para os sortudos funcionários públicos que serão escolhidos, não duvido, com toda a justiça! Porque o resto, senhora ministra, o resto é merda! Só que não sei se sabe, mas é essa merda que empurra a economia e alimenta o seu Governo!

Não estão em causa os filhos dos funcionários, que muitos, decerto, também necessitam. Está em jogo apenas um critério de equidade social. Só que, bem sabemos, a tentação da caça ao voto ideológico ainda tem labirintos antigos e a escola partidária de quadros ainda é, infelizmente, o que era. 

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