Uma entrevista oca e previsível (tirando os últimos dez minutos)

Foto: TVI24. 
Quem conhece José Sócrates - incluindo o comum dos portugueses - sabia, à partida, que a entrevista desta noite à TVI seria 'mais do mesmo'. Eu, falo por mim, não esperava nada de novo, além daquilo que conhecemos do entrevistado.

Refutar todas as acusações que constam no processo, reiterar até ao tutano que é inocente, desmentir insistentemente tudo aquilo que o Ministério Público invoca. Expectável. 

É por isso que foi uma entrevista oca. E foi pena, porque já que a figura aceitou falar, seria uma oportunidade de ouro de esmiuçar onde muitos não tinham ido. Exceção feita aos últimos dez minutos, quando o jornalista decide - obviamente - falar de política. E foi aí que também voltámos a ter o velho animal político, onde sempre foi bom: na oratória que, em ciência política, não toca a todos na arte de a ter. E se há justiça que não posso deixar de lhe fazer é essa: a proeza de construir uma narrativa - maçadora, muitas vezes - política!

Foram os seus melhores dez minutos dos últimos sete anos. Porque, na verdade, no que respeita ao seu partido, as considerações de Sócrates são verdadeiramente certeiras. António Costa - que visitou José Sócrates em Évora, quando este esteve detido - não fala do processo, do seu amigo e antigo camarada de lides partidárias, mas se há uma coisa que qualquer militante merecia desde a primeira hora da morte judicial - e que Sócrates não teve - era, no mínimo, uma posição firme do seu partido. Nunca a teve. Apenas silêncios ensurdecedores. E o que Fernando Medina ontem protagonizou, foi apenas e só, prestar-se ao papel de mensageiro - bem mandado, por sinal - do atual secretário-geral do PS. Um líder que, pelas responsabilidades governativas que ocupa, sabe que não pode prestar-se a isso. Na política, já sabemos, quando tudo vai bem 'palmadinhas nas costas', quando um se afunda, é deixar afundar e salvar a pele quem puder. Um clássico!

Costa manda Medina falar por ele - quando, na realidade, o que fez foi falar em nome do PS. Isto é de facto uma "canalhice", como hoje devolveu Sócrates. Mas, lá está, entre canalhas, fica tudo à mesma em família. 

Arrisco dizer que, a bem da sanidade deste país, é bom que José Sócrates nem pense em voltar às lides domésticas da política, porque a sua morte ficou inscrita no dia em que foi detido no aeroporto de Lisboa. Se não aprender com o passado dos outros, então o seu futuro terá tudo para se tornar num inferno ainda maior do que aquele que vive. 

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