Pandemia: a irresponsabilidade de um Presidente em segundo mandato

Foto: Miguel Figueiredo Lopes. 
Vários especialistas já asseguraram hoje que podemos estar naquilo a que chamam a 'quarta vaga' da pandemia. Há mais de uma semana que Lisboa conta 240 casos por 100 mil habitantes. Fala-se da matriz, do Rt, da reativação de enfermarias, do 'raio que os parta a todos', permitam-me a expressão. 

Todos nós temos assistido a um crescente número de infetados, que, leigos como somos, consideramos que isto se deve ao natural e progressivo desconfinamento em todo o País. 

Seja como for, e apesar de nos dever preocupar a todos a realidade que vamos acompanhando diariamente, não posso deixar passar em branco as irresponsáveis declarações do Presidente da República que, há cerca de uma semana, começou a debitar asneira atrás de asneira. Claramente, Marcelo passou a tratar a pandemia como uma questão política e usa-a como bengala para provocar, como nunca se viu, António Costa e o seu Governo. Dizer, com tom áspero e até a roçar a má educação, que "aconteça o que acontecer, não voltaremos atrás" e, em tom abrasivo, que "é o Presidente que escolhe o Primeiro-Ministro e não o contrário" é uma falta de sentido de Estado tremenda. Marcelo quer romper com o 'casamento' que assumiu nos últimos cinco anos com António Costa, porque agora dá-lhe jeito, porque agora pode ser verdadeiramente Marcelo.

Deu dó vê-lo em tristes declarações destas, primeiro na Feira da Agricultura, no domingo, em Santarém, e depois à chegada à Hungria, reforçando o ódio que desconhecíamos todos ter por Costa.

Mais irresponsável se torna na semana em que a situação pandémica começou a descontrolar-se. Queira Deus que este Presidente, ciente daquilo ao que vem neste segundo mandato, não tenha de engolir cada palavra que anda agora a proferir aos quatro cantos.

António Costa, que já não escapa à herança da Covid-19, tem tido o discernimento de não perder a cabeça com os desvarios de Marcelo. Está fartinho, fartinho do inquilino de Belém, mas sabe que não pode perder as estribeiras. De forma consciente, diz, com propriedade, que se preciso for, há 'marcha-atrás', seja em Lisboa, seja em Trás-os-Montes. E eu, que tenho discordado e criticado tanto o atual Primeiro-Ministro, agradeço-lhe, por ora, a cabeça fria. 

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