CNN Portugal: diferente mas não melhor que os outros


A CNN Portugal arrancou as suas emissões a 22 de novembro.

Na altura, muito se disse, muito se escreveu. Elogios e críticas à mistura. Com as redes sociais a inflamarem a coisa, como já é hábito e natural nos dias de hoje. 

Não quis, a quente, opinar. Queria ver, com calma, o projeto. Não só a televisão como o digital. 

Agora, mais de um mês depois, creio poder emitir uma opinião, a minha, com o olhar de jornalista, porque é sempre por esse prisma que olho, como já sabem. 

Comecemos pela televisão. De realçar logo a abrir com o regresso de dois pesos pesados do jornalismo: Judite de Sousa e Júlio Magalhães. Fiquei muito feliz de voltar a vê-los. São dois dos nomes mais respeitados do jornalismo nacional, com provas mais que dadas do seu valor, e essenciais para ajudar a formar novas gerações. Numa redação, são imprescindíveis. Um ponto que aplaudo, porque em tantas redações deste País, a idade é descartada. Quando a idade é saber, é memória, é experiência. Não tenho dúvida que ambos serão uma enorme mais-valia ao canal, prova disso foi a cacha de Júlio Magalhães com a entrevista de Rendeiro na abertura das emissões. Digam o que disserem, qualquer jornalista gostaria de ter tido aquele exclusivo. Rendeiro é acusado, já foi julgado em diversos processos, criminoso até. Mas não é por isso que deixa de ser notícia, pelo contrário. Parabéns à CNN por isso. 

O segundo aspeto em que me quero focar é nos alinhamentos, oráculos e escolha editorial dos vários jornais ao longo do dia. Tentei libertar-me da ideia do fim da TVI24. Juro-vos que tentei. Mas, por mais que o faça, não consigo. Há ali um estilo permanente colado ao passado. Bem sei ser difícil aos pivots mudarem a sua naturalidade, mas aquela ponta de sensacionalismo, até por alguns comentadores, inclusive, está lá. Não é impressão minha. Está. Eu, pessoalmente, não gosto. Mas, na verdade, essa imagem podia ter sido melhor trabalhada. 

A opção de dois pivots não me choca, mas não gosto, distrai o telespectador. Um a ler uma notícia é mais claro que dois. Esta alternância, a mim, não me convence. A dinâmica visual dos diretos, e das imagens em movimento constante, por outro lado, já me agrada. É interativa e como é imagem, capta a atenção. Sendo a estação parte integrante da rede mundial CNN, compreendo que haja reportagens exclusivas, de outras delegações em outros países, que sejam traduzidas para o mercado português. Contudo, não gosto da falta de critério que muitas vezes é opção. Há coisas, no fim do mundo, que não interessam nem um pouco aos portugueses. Seria bom que, de futuro, esse crivo editorial tivesse mais perspetiva nacional. Gosto também das cores e das fontes selecionadas. São 'clean' e, neste aspeto, a escolha foi a melhor. De resto, a cobertura nacional é o que esperava, não há muito por onde fugir. E por isso mesmo tenho de dizer que não, não se fez nada de novo, comparado com os outros canais, como tanta gente na CNN fez questão de apregoar. 

Digital é rei

Se há ponto onde a CNN ganha é no digital. Pedro Santos Guerreiro, responsável da área do canal, prometeu o bom, e não faltou à palavra. Onde eu acho que o projeto venceu foi no site. 

Além de peças bem escritas, leitura extraordinária (mais uma vez com uma excelente seleção das fontes, leia-se, tipo de letra, foi aqui) e histórias fora da caixa. Estou fã e arrisco dizer que é um dos projetos nacionais a nível de web jornalística mais bem conseguido, talvez só superado pelo Expresso e Observador, os melhores no País, na minha opinião. 

Sou uma consumidora do site desde o primeiro dia. E, se não se desviarem do caminho, será um sucesso. 

Em suma, a CNN Portugal não vem trazer nada de novo no panorama audiovisual nacional, apenas se assume com uma identidade própria. Pode ser diferente. E é. Vida longa é o que lhe desejo. E que o Jornalismo possa vencer a batalha da desinformação e reconquistar o seu público, por direito próprio. 

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