Legislativas 2022: o que está em causa


Eleições antecipadas nunca é uma boa razão para ir às urnas. Mas, quando deixa de haver condições políticas, não há outra solução. António Costa fez bem em deixar que lhe chumbassem o orçamento. Há linhas que não podem ser ultrapassadas, sobretudo as da responsabilidade. Nisso, os seus aliados até aqui ainda não tinham provado os limites do primeiro-ministro. E quiseram esticar a corda. Ousaram demais. Foram além do que é possível, dentro daquilo que só o centro ainda pode fazer. Se os extremos são assim designados por várias razões isso acontece. Num país que, em democracia, nunca quis experimentalismos nem votar massivamente para um lado e para o outro, temos, como sabemos, os tradicionais partidos do Centrao - PS e PSD - e de poder a assumirem há mais de 40 anos o papel de liderança na governação.

É por isso que nestas eleições, mais do que nunca, está em causa essa estabilidade. Tem sido essa a bandeira do PS. É nessa linha que Costa e as suas tropas jogarão. Nunca, como em 2022, estivemos tão longe das propostas de cada partido. A pandemia ofusca tudo e todos. Não ouvi até hoje uma proposta estrutural para as Finanças - tirando a clássica tirada de que todos querem baixar impostos, na velhinha falácia do costume -, para o monstro da Segurança Social que a todos nós diz respeito, para a Justiça, para a Educação, etc, etc, etc. Fala-se apenas e só da Saúde, com clichés já gastos e arrastados pela crise sanitária. Cultura? Esse setor tão fragilizado e abandonado, nada. Alterações climáticas e descarbonização? Nada. Agricultura e Agroalimentar? O que é isso, não é? São só dois dos setores mais decisivos para a economia, dependência externa e impulsionadores das exportações. Energia? Pior ainda, com a agravante de que é um dos setores mais importantes do futuro que é hoje e que impacta no bolso das famílias de forma voraz.

Nunca assisti a uma campanha tão despida de ideias como esta. E isto, meus caros, é assustador.

O modelo de debates não ajuda, é certo, mas admitamos também que o jornalismo não está a saber pegar num problema (a falta de tempo) para obrigar os candidatos a dizer ao que vêm no plano das ideias. A ideologia há muito que está morta e bem enterrada. Sem um rasgo de adaptação ao século XXI, e no caso a 2022, em que tudo mudou, incluindo as pessoas e as suas vidas.

Posto isto, resta-me acreditar que o futuro será melhor e com muita esperança que o clima económico seja favorável para ajudar a empurrar a coisa. Porque políticos capazes de parecerem como tal, nem vê-los.

Enquanto cidadã tenho de dizer que me sinto órfã de uma ideia, um partido, um político capaz de me oferecer uma luz.

Votar é e continuará a ser a melhor arma para dizer que estamos cá e que queremos fazer parte de tudo isto. Mas, como sabemos, isso não chega, nem alimenta bocas, nem sustenta vidas, e muito menos nos conforta à espera de um amanhã melhor. Mas até lá, façamos a nossa parte. É essa a nossa tarefa no processo que culmina no final do mês. E cada voto será sempre o melhor que podemos fazer pelas gerações vindouras e nas quais acreditamos. Votemos, pois então! Livres. Plurais. E conscientes. 

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