Ponte de Lima: à descoberta da vila mais antiga de Portugal

Em pleno coração do Vale do Lima, a beleza castiça e peculiar da vila mais antiga de Portugal esconde raízes profundas e lendas ancestrais. Regressei a ela no passado mês de março, num dia de sol primaveril sem igual. A sua beleza é feita de terra, de património, de gastronomia mas também de gentes, que, ali mesmo ao lado de Espanha, sabem, como ninguém, receber forasteiros e portugueses. Esta é uma viagem ao coração minhoto, onde, por mais mundo que corramos, não encontramos igual. 

Foto: Câmara de Ponte de Lima.

Conta-se que foi a Rainha D. Teresa quem, a 4 de março de 1125, outorgou carta de foral à vila, referindo-se à mesma como Terra de Ponte. Anos mais tarde, já no século XIV, D. Pedro I, atendendo à posição geoestratégica de Ponte de Lima, mandou muralhá-la, pelo que o resultado final foi o de um burgo medieval cercado de muralhas e nove torres, das quais ainda restam duas, vários vestígios das restantes e de toda a estrutura defensiva de então, fazendo-se o acesso à vila através de seis portas.

A partir do século XVIII a expansão urbana surge e com ela o início da destruição da muralha que abraçava a vila. Começa a prosperar, por todo o concelho de Ponte de Lima, a opulência das casas senhoriais que a nobreza da época se encarregou de disseminar. Ao longo dos tempos, Ponte de Lima foi, assim, somando à sua beleza natural magníficas fachadas góticas, maneiristas, barrocas, neoclássicas e oitocentistas,aumentando o valor histórico, cultural e arquitetónico deste rincão único em todo o Portugal.

Os jardins

É uma das suas imagens de marcar. Os jardins da vila minhota já lhe valeram vários prémios, nomeadamente no Concurso Nacional de Vilas e Cidades Floridas e no Concurso das Vilas e Cidades mais floridas da Europa (1999 e 2000).

Foto: Flávio Menezes.

Atravessar o rio Lima é uma das propostas que deixamos. Ao fazê-lo é possível contemplar o Parque do Arnado, por exemplo, e usufruir de estufas e das sombras das videiras instaladas nas ramadas. Pode também percorrer a ecovia junto ao rio até ao Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, espaço onde a arte e o jardim se fundem e que pode ser visitado anualmente de maio a outubro. 

Património e tradições

São várias as opções de visita no que respeita ao património edificado em Ponte de Lima. Destacamos alguns, começando pelo chafariz nobre no emblemático Largo Camões, mesmo encostado ao rio Lima. 

Construído no atual Largo Dr. António Magalhães, em 1603, junto a uma das principais portas de entrada na muralha da vila, foi transferido para o Largo de Camões em 1929. O seu risco renascentista e execução são correntemente atribuídos ao famoso Mestre limiano João Lopes, o Moço.

Foto: Câmara de Ponte de Lima


Para financiar a sua construção e a canalização da água de Merim, foi lançada uma finta sobre o sal e o azeite comercializados nesta Vila.

Por ser tão importante a água potável, uma vez que na vila só existia uma fonte e não raras vezes a população se queixava, foi colocada junto ao chafariz uma inscrição num bloco granítico, onde se leem as coimas aos que o sujassem. Se o prevaricador fosse apanhado, a primeira vez passava 3 dias na cadeia, se repetisse o feito a pena era em dobro. A inscrição acompanhou o chafariz para o Largo de Camões.

Outro local de culto no Minho é o Mosteiro de Refojos do Lima, o maior de todos os que existiram na área do atual concelho de Ponte de Lima. É classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1939 e foi adquirido pelo Estado, com afetação permanente ao serviço da Igreja Católica, por usucapião. 

A Igreja Paroquial de Refoios era parte integrante deste antigo Convento dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho que incluía o edifício contíguo agora transformado em Escola Superior Agrária.

Foto: Ana Clara


Conforme atestam algumas inscrições na Igreja, o início da construção do templo remonta a 1143, estando concluídas as obras em 1152. Alguns documentos confirmam que Afonso Ansemondes e sua esposa doaram a este convento o "condado” de Refoios, com seu palácio e suas terras, em 1150. No mesmo ano, o rei D. Afonso Henriques, a pedido de Mendo Afonso, filho de Afonso Ansemondes, confirma a favor do convento de Refoios, o privilégio de couto, anteriormente concedido em relação às terras doadas.

Foram realizadas muitas obras de beneficiação ao longo dos séculos. As primeiras grandes transformações ocorreram no século XIV e mais tarde no século XVI, com a reconstrução da igreja, em 1581.

A fachada principal mantém caraterísticas do século XVI, como é o caso do pórtico com motivos claramente renascentistas; a parte superior sofreu alterações no século XVIII. A torre sineira já existia em 1770 e porque foi parcialmente destruída por um raio, foi reconstruída em 1859.

Foto: Câmara de Ponte de Lima

O interior da igreja é constituído pela capela-mor e por uma nave. Na nave encontramos ainda quatro capelas abertas nas paredes laterais. O retábulo da capela-mor é uma das mais fabulosas obras de arte do século XVII, dividido em três partes, onde a meio preside a padroeira do convento e da freguesia, Santa Maria de Refojos. O teto é constituído por uma abóboda de berço, em granito, decorado com caixotões. A nave apresenta um tecto semelhante, com caixotões de madeira. As capelas laterais apresentam tetos mais ricos com caixotões decorados com talha barroca.

A restante área conventual é agora ocupada pela Escola Superior Agrária e apresenta várias alterações arquitetónicas. Deixamos a sugestão de visita ao Claustro datado dos finais do século XVI. A pedido poderá visitar o antigo refeitório e a cozinha onde se encontram magníficos exemplares de azulejos joaninos, com motivos alusivos à gastronomia.

Gastronomia

Em Ponte de Lima a gastronomia tem o seu ex-libris no Arroz de Sarrabulho, servido com rojões de porco, um prato rico em sabores e tradição. 

A lampreia do Rio Lima também é muito apreciada. Esta iguaria pode ser cozinhada de diversas formas, com destaque para o Arroz de Lampreia e para a Lampreia à Bordaleza. 

Uma palavra de realce para o Bacalhau de Cebolada, prato tradicional estimado a nível popular, confecionado nas tascas e nos restaurantes limianos, tornando-se num pitéu afamado e muito procurado. Os mais gulosos, os que gostam de doces, não podem deixar de saborear a textura do Leite-Creme queimado.


Deixamos como referência um dos restaurantes mais emblemáticos de Ponte de Lima e que visitámos em março passado: a Taverna da Vaca das Cordas. A comida saboreia-se com vagar, e a frase do prado ao prato, para os amantes de carne e bacalhau, ganha uma dimensão impronunciável. 



Quem não conhece, fica aqui só um pouco de uma das maravilhas deste País e do qual muito me orgulho.

Um agradecimento especial à Câmara Municipal de Ponte de Lima.

BI – Ponte de Lima

População: 41169 habitantes

Área: 320.25 km2

Presidente: Vasco Ferraz

Freguesias: 39

Contactos:

Câmara de Ponte de Lima

Telefone: 258 900 400

E-mail: geral@cm-pontedelima.pt

Roteiro de visita:

https://www.visitepontedelima.pt/pt/

Comentários