Sevilha, essa guapa encantadora aqui tão perto


Romanos, visigodos, árabes, mouros. A capital da doce Andaluzia carrega no corpo o peso de uma história secular. As marcas que as suas ocupações passadas deixaram estão hoje bem visíveis para quem visita a cidade pela primeira vez. Foi o meu caso. Um caso sério de quase traição. Após tantos anos a conhecer o País vizinho, nunca tinha ido a Sevilha. Aconteceu este mês de agosto de 2023, graças aos amigos de uma vida que lhe são fiéis há muitos anos. Valeu todas as horas de todos os dias. Nela, senti-me em casa, do acordar ao deitar. Salero, flamenco e olés não faltaram, pois claro. É desta guapa encantadora, aqui tão perto, que vos convido a conhecer. Pelos olhos de alguém que já a amava antes sequer de a conhecer.

Texto e fotos: Ana Clara 

Começo já pela frontalidade. Para os que não aguentam um sopro quente, não façam como eu: não vão em pleno agosto, em que as temperaturas médias rondam os 42 graus. Mas se gostam do calor intenso do Sul de Espanha que assa e vos deixa a ferver, dia e noite, então agosto é a melhor opção. Sentirão, como nunca, o caliente poder da natureza e de nuestros hermanos.

Se a vossa viagem for de 4 dias, como foi o meu caso, terão de organizar, com estratégia, a visita. Porque há muito por descobrir em Sevilha. O vosso perfil, os vossos gostos, as vossas escolhas, ditam a agenda de cada dia. Eu sabia que queria conhecer não só a história da cidade, mas também a modernidade, ao mesmo tempo que não podia faltar cada beco e ruela, cada jardim e largo, e muito menos tapas e canhas com fartura.






Fiz-me ao caminho e, para começar, nada mais simples e básico: o centro histórico. Começando pela imponente catedral de Sevilha, uma das mais bonitas que já visitei. É a maior catedral de Espanha e a segunda maior do mundo, atrás apenas da Catedral Basílica de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil. De estilo gótico, impressiona pelos seus quase 130 metros de comprimento e 42 de altura. 

Localizada no antigo bairro judeu de Santa Cruz, e construída sob os restos da antiga mesquita da cidade, ali repousam os restos mortais de Cristóvão Colombo, intensamente ligado à cidade no tempo da descoberta do continente que fica do outro lado do Atlântico. 

O seu património artístico valeu-lhe o título de Património Mundial da Humanidade em 1987, e entre várias obras de arte, conta com relíquias de Murillo, Velázquez, Goya ou Zurbarán. Sejam esculturas, pinturas, ourivesaria ou tecidos, a catedral de Sevilha acaba em grande com um extraordinário vitral de San Sebastián com as feições do imperador Carlos V.  

Destaque ainda para a exuberante Torre de Giralda, torre do campanário da Catedral, um dos pontos mais extraordinários do mosteiro. 

Estando no centro, é indispensável uma visita ao clássico e histórico Bairro de Triana, descendo um pouco para as margens do Rio Guadalquivir. 












Berço de cantores e dançarinos de flamenco, artistas e artesãos, Triana é um bairro de mestres oleiros que se concentram nas imediações da Plaza del Altozano, junto à Ponte de Triana.

As orígens do bairro remontam a um passado distante, até aos tempos em que as as legiões romanas estabeleciam ali os seus acampamentos.

Triana é sinónimo de bares, restaurantes e cafés onde se sente Sevilha no seu mais intenso salero. Depois de um almoço daqueles mesmo calientes, também é proibido não visitar o mercado local, onde se fundem todos os sabores de Espanha e do Mundo. Vão, sem dúvida, gostar!

Real Alcázar de Sevilha

Entre tantos museus e espaços para visitar, não pode faltar o Real Alcázar de Sevilha, um conjunto de palácios extraordinários rodeados por uma muralha. Património Mundial da Humanidade da UNESCO, é visita obrigatória. O tempo foi o que mais faltou para o descobrir com mais profundidade. 



Desde a história da arte islâmica associada à cidade, passando pelo período gótico, renascentista,  maneirista e barroco, aqui preserva-se a história de Sevilha mas também da Andaluzia.

Um passeio pelo Alcácer

O Alcácer é uma construção que surpreende a cada instante, pela variedade e excelência das suas instalações. O Pátio das Donzelas, localizado no Palácio do Rei Dom Pedro, é um dos pontos que mais atrai e que nos detém no meio de uma natureza ímpar em plena cidade e muros. 

Outros pontos de interesse, que vale a pena prestar especial atenção ao longo do trajeto, são os Salões de Carlos V, o Pátio de Gesso, o pequeno Pátio das Bonecas e a antiga Casa da Contratação. 








Saídos diretamente dos contos de fadas são os jardins do Alcácer, repletos de fontes, laranjeiras e palmeiras. São um verdadeiro e exuberante paraíso de paz e frescura, ideal para relaxar e refrescar-se do calor tórrido que em agosto temos por aquelas bandas. Fica difícil de suportar às 3 da tarde mas não impossível de vencer. 

Ainda no caminho, é imprescindível a visita ao Arquivo das Índias, uma das construções mais emblemáticas da cidade e onde se guarda o registo do seu esplendoroso passado como porta de comércio com as Índias.








Para acabar em grande, rume ao rio, em direção à Torre del Oro. Símbolo da Andaluzia, foi fundada em 1221 e erguida pelo Califado Almóada (potência religiosa berbere governada pela dinastia moura) para evitar que houvessem invasões pelo Rio Guadalquivir. Conta a história militar de Espanha, e nomeadamente das lutas no sul do País, até aos dias de hoje. A vista é soberba e lá do alto, o rio suporta todos os sonhos do mundo. A entrada é simbólica, cada um dá o que quiser. Serve para ajudar na manutenção do edifício. 








Contrastando com a riquíssima história de Sevilha, há um espaço, símbolo da Modernidade, que não pode falhar. As setas de Sevilha, ou os cogumelos, pelas suas formas, que como o próprio nome indica, se assemelharem aquele alimento. 







É uma construção de madeira na praça La Encarnación, na zona antiga de Sevilha, desenhado pelo arquiteto alemão Jürgen Mayer-Hermann e a sua construção terminou em abril de 2011. Lá do alto têm-se uma vista 360 graus sobre a cidade, e permitindo compreender a forma como foi construída. Antes da visita, pode contar com uma apresentação em sala da história da cidade, da cultura, das artes e das tradições, onde o flamenco marca pontos, como era de esperar. Uma visita surpreendente. 

O flamenco 

Por toda a cidade há vários espaços dedicados ao famigerado flamenco, com espectáculos a toda a hora, pagos ou simplesmente espontâneaos no meio da rua. 

Mais um declarado Património Cultural Imaterial pela UNESCO que nos envolve, pela sua inusitada forma de se entranhar.

De todos, destaco o que visitei, o Museu do Baile Flamenco, que mostra a evolução da dança desde os seus primórdios, contando a história de grandes artistas para dar vida à narração da história que culmina num estrondoso espectáculo (a que não assisti por estar esgotado nas sessões todas do dia). Apesar disso, em cada canto esbarramos com ele, são vários os grupos locais que atuam pela cidade e desfilam como se de um cortejo se tratasse. 

A pérola chamada Plaza de España

Para o fim, o melhor: a emblemática Plaza de  Espana. Situada no magnífico parque Maria Luísa, foi construída em 1928 para a Exposição Ibero-Americana de 1929. 

Quando entramos nela, mergulhamos num lugar único e difícil de esquecer, porque ela é de facto soberba. 







Ao redor da praça, há bancos de cerâmica pintada representando todas as províncias da Espanha.

Da autoria de Aníbal González, junta um estilo inspirado no Renascimento com os elementos típicos da cidade: tijolo à vista, cerâmica e forja, num complexo semicircular, o que a torna única. Curioso é que o edifício está coberto por uma galeria com tetos artesoados que cobrem 48 bancos, com uma decoração à base de azulejos, que contam diferentes capítulos da história de Espanha, representando todas as províncias espanholas, como já dissemos. Ponto turístico fulcral da cidade, também podem assistir a espectáculos de flamenco por toda a praça. 

Da viagem, deixamos algumas sugestões de restauração e hotelaria, com base na nossa experiência de quatro dias. Comer em Sevilha é um pouco como por todo o país, um manancial de toda a gastronomia castelhana, com as suas particularidades, que variam de região para região. Como em tudo, há bons e maus. Mas tivemos sempre boas experiências à mesa. Deixamos duas sugestões de restaurantes de onde, sem dúvida, não sairão defraudados. 

Restaurantes 

- Taberna Casa Sarmiento 

C. Dos de Mayo, 8, 41001 Sevilha 

- Al Lado

C. Argote de Molina, 29, 41004 Sevilha

Hotel 

- Barceló Sevilla Renacimiento


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