A caminho das legislativas: uma ementa fraquinha
Por estes dias, o calendário tem servido ao lanche e ao jantar um cardápio de grandes iguarias. Falo, em sentido figurado claro, dos debates políticos.
É penoso alguns a que já assistimos. Outros, porém, têm surpreendido pela seriedade com que vão ao confronto.
Um dos líderes mais coesos e bem preparados tem sido Rui Tavares. O líder do Livre tem mostrado, para quem o acompanha há anos, a razão pela qual tem conseguido chegar ao Parlamento. O Livre representa uma esquerda moderada, que não entra em populismos e que define muito bem as linhas programáticas da ação política. Tem sido uma das poucas lufadas de ar fresco neste tempo de Carnaval político.
Pelo contrário, Rui Rocha da Iniciativa Liberal e Paulo Raimundo, do PCP, talvez ainda a habituarem-se a estas andanças, têm-nos dado debates de uma pobreza extrema, não só na preparação como na forma trémula como seguram alguns temas. Para o PCP, é mais preocupante porque o capital político do partido merecia mais e é bom que rapidamente os conselheiros na Soeiro Pereira Gomes se apressem a corrigir falhas que, nesta altura do campeonato, já não deviam existir.
Quanto aos restantes, e ante uma população que decerto tem visto poucos ou nenhuns debates, tanto Pedro Nuno Santos como Luís Montenegro, que têm obrigação de demonstrar outra atitude, tem sido penoso. Ambos não descolam de uma imagem que não condiz com a responsabilidade do cargo a que se candidatam. Ainda é muito poucochinho e, na verdade, tanto um como outro, não surpreendem com rasgos que muitos esperam, continuam num discurso demasiado escrito e memorizado, que soa a tudo menos a naturalidade. Não se entende um caminho, uma única ideia programática, não se percebe onde está traçada a fronteira ideológica entre ambos. Provavelmente, porque ao centro é difícil de encontrar.
Uma nota final para André Ventura. Goste-se ou odeie-se, o Presidente do Chega é o mais bem preparado, pela experiência que já acumulou, pelas manhas que conhece de cor e por saber, melhor que todos os adversários, falar às massas. O seu capital político dá-lhe essa vantagem em relação a todos os outros nesta corrida. E talvez também por isso, os prognósticos nas sondagens estejam em níveis impensáveis. Veremos se chegará aos 20% como tantos prognosticam.
No entretanto, estamos no tempo certo para viver este ciclo
imparável de debates. Nada como um bom Carnaval para animar a procissão.
*Podcast/Crónica de 12 de fevereiro na Antena Livre. OUVIR.
Adenda: esta crónica foi escrita antes do que aconteceu ontem no debate entre Luís Montenegro e André Ventura. O melhor debate, até agora, para Luís Montenegro e que, na minha opinião, conseguiu encostar o Chega às cordas, dizendo claramente o que pensa sobre o partido e onde não quer estar. Ventura, pela primeira vez nestes debates, esteve literalmente bloqueado, sem argumentação sólida para o que ouvia. Foi eficaz a estratégia de Montenegro que, logo a abrir, posicionou-se onde queria.
Comentários