António Lobo Antunes: nunca me morrerás



António Lobo Antunes. Ou António. Para mim, será sempre ALA. O António tem sido por estes dias alvo de algo que, por mais que tente, não sei definir. 

Vem isto a propósito de uma obra que vem à estampa a 3 de Outubro, pela chancela da Contraponto. 'Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes', de João Céu e Silva, o jornalista que mais acompanhou o escritor há mais de 15 anos. 

"Anunciou várias vezes que deixaria de escrever, mas foi sem aviso que a demência dominou, por fim, o vício da escrita". Quem o afirma é João Céu e Silva, que acompanha o escritor há mais de década e meia. Segundo o Expresso, o jornalista dá a notícia, de que se impôs o “silêncio no reino da polifonia”, no texto de entrada de 'Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes'. A obra, revista e aumentada, chega às livrarias a 3 de Outubro, e avança que António vive em “exílio da realidade”. Segundo o Expresso, que já teve acesso à obra, António vive em “exílio da realidade”, numa demência prolongada que, segundo João Céu e Silva não é de agora. Estávamos em Dezembro de 2021 e o escritor “estava como os personagens de muitos dos seus romances, que repetem ao longo do livro um mesmo pensamento, como se absortos da vida continuassem a viver”. Para Céu e Silva ficou então claro que muitos dos episódios de excentricidade de Lobo Antunes eram, na verdade, “sinais da doença”. “Foi durante esses 27 minutos que antevi o desfecho em curso da vida de António Lobo Antunes”, cita o Expresso.

Sem pôr em causa o que pode vir a estar neste livro, acho apenas e só miserável matar um homem quando ele ainda está vivo. E expor um escritor que, quem o acompanha, há anos, sabe que vive há muito no seu mundo literário, com os seus fantasmas, da infância à idade adulta, com as feridas dos acontecimentos da sua vida, com toda a sua bagagem, que é tudo menos leve. Expor a demência de alguém, desta forma em jeito de máquina de dinheiro, e corridas para o Top 3 do Natal mais próximo, é um facto que parece que aí vem. E se todos sabemos que é normalmente em Outubro que, anualmente, o António lança sempre uma obra inédita, também sabemos todos, os que o acompanhamos, por que razão o António não é notícia há muito tempo. Todos nós, os seus leitores, e os que não o são, os que o adoram e os que o odeiam, não têm direito algum de devassar a sua vida e muito menos feri-la desta forma, ao dispor do mundo. Está tudo certo na decisão de lançar um livro sobre um dos maiores escritores deste País. Mas matar um homem, que ainda vive, e que não se pode defender, diz mais do atirador do que da vítima, condição que António nunca foi nem será. Por mim, aqui estarei, à espera sempre do que vier. De tanto que já me deu, revisitar um dos escritores que mais admiro e tive o privilégio de conhecer, será sempre maior que tudo o que ainda está por chegar. Sei que este País te deve muito, António, ainda que nunca o admita enquanto colectivo. Mas isso, porra, como tu bem sabes, também nunca foi importante. Pelo contrário, foi o antídoto que também nunca te fez abandonar o génio que imprimiste na velhinha 'Memória de Elefante', nos 'Cus de Judas' ou no 'Conhecimento do Inferno'. Um beijo no lugar de sempre. ♥️ 

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