Um abraço para Valência
A catástrofe que aconteceu em Espanha será traumatizante para o povo espanhol e para as comunidades afectadas, nomeadamente Valência.
Foto: AP Photo/Alberto Saiz |
Do ponto de vista humano, está à vista de todos. Serão meses, senão anos, de reconstrução de vidas, lutos que nunca se conseguirão apaziguar, histórias de vidas interrompidas do dia para a noite.
O que aconteceu em Espanha, sendo um fenómeno climático peculiar, associado ao aquecimento do Mediterrâneo, traz-nos à memória tudo aquilo que, há anos, a ciência nos avisa.
A Península Ibérica é uma das regiões da Europa potencialmente mais afectadas pelas alterações climáticas, enfrentando uma variedade de impactes potenciais: desde o aumento na frequência e intensidade de secas, inundações, cheias, ondas de calor, incêndios rurais e erosão costeira. Tudo em episódios cada vez mais repentinos.
Esta é já considerada uma tempestade histórica, à altura das grandes tempestades do Mediterrâneo, e entre as três mais intensas da região no último século. É já um aviso para aquilo que temos pela frente. E sem ser dramática, é bom lembrar o que os investigadores nos têm dito nos últimos anos.
A Península Ibérica vai testemunhar este século alterações no regime de secas, com consequências económicas, sociais e ambientais. E falamos de dois tipos de secas: a meteorológica, que se define pelo desvio da precipitação em relação ao valor normal esperado, e a seca hidrológica, que está associada ao declínio dos níveis médios de água nos reservatórios e no solo.
O Acordo de Paris há muito que foi rasgado e mesmo que hoje todas as nações do Mundo começassem a cumpri-lo à risca, já não íamos a tempo de estancar o que aí vem. Espanha é, por estes dias, o exemplo maior do que nos espera. Sem medos nem dramas, neste momento só há um caminho: que todos os países comecem pelo menos a trabalhar na mitigação e em medidas de adaptação. As gerações futuras vão ter de lidar com fenómenos cada vez mais drásticos da Mãe Natureza que, anda há muito zangada com o Homem. Provavelmente, muitos de nós já cá não estará para testemunhar esse inferno, mas cada um tem o dever de fazer a sua parte. Resta saber se estamos dispostos a isso.
Nota: podcast/opinião na Antena Livre esta segunda-feira, 4 de novembro. OUVIR.
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