Montenegro: o silêncio paga-se caro

Em menos de uma semana, um possível conflito de interesses que envolveu o primeiro-ministro, deu origem a uma moção de censura, que acabou chumbada no Parlamento. Só este facto sintetiza a força da suspeita. 

Foto: Facebook Luís Montenegro


O conflito centrou-se na empresa de consultadoria da mulher e dos filhos da qual, alegadamente, Luís Montenegro pode beneficiar da nova Lei dos Solos criada pelo seu Governo. 

Em todo este caso, ante os factos, continuo sem ver quais os benefícios que Montenegro colhe. Os únicos, à vista, decorrem naturalmente do casamento e, por essa razão, o património dessa empresa ser também seu. Portugal é um País que continua a ver curto na economia, na classe política e no desenvolvimento do País. Não estão em causa suspeitas de corrupção, de prática de crimes, muito menos de ações mal-intencionadas. Nem todos os governantes fazem da política carreira e, a maioria deles, vem do privado, com muitas empresas que legitimamente fundaram. 

Neste caso, em que o Chega aproveitou para desviar atenções de si próprio, vejo um único erro crasso que o primeiro-ministro cometeu: ter estado em silêncio demasiado tempo, deixando arrastar para a lama o seu nome e suspeitas que, até ao momento, se consubstanciam numa mão cheia de nada. O silêncio foi exatamente a falha de Montenegro, que pagou caro, com a devassa da sua vida a ser servida ao jantar dos portugueses. 

Conheço bem a teia de interesses que lavra nos partidos, nas Administrações Públicas, na escadaria dos jobs for the boys deste País. Quase todos eles, permitidos pelo legislador, juridicamente sustentados, em leis criadas pelos próprios. Nada disso aqui está em causa. Falamos sim de um caso fabricado que não tem força para derrubar um Governo e que apenas chamuscou o nome do primeiro-ministro. Isso basta! E se é certo que à mulher de César não basta parecer, também é verdade que enquanto não separarmos o trigo do joio, continuaremos a focar-nos no que menos interessa quando, ao mesmo tempo, proliferam outros casos que vão minando a credibilidade de um País, que teima em não sair da cepa torta no contexto europeu em índices que realmente importam! Somos isto, o que escolhemos ser! E quanto a isso, nada há a fazer!

Podcast/Opinião de 24 de fevereiro de 2025, na Antena Livre. OUVIR

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