José Luís Carneiro: o socialista de Baião (e o único) disponível para ir a jogo
Homem de Baião, militante convicto e sempre ativo, ex-ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro cumpre o dever que entende ser agora ou nunca (de novo). Perdeu para Pedro Nuno em 2023. Tem agora nova oportunidade. E, ao contrário de todos os outros putativos candidatos, não tem medo de ir a jogo, apesar do momento sombrio que o partido atravessa. A coragem dos líderes fortes, às vezes, está nos detalhes. Pode ser que venha (ainda) a dar lições a muita gente.
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Crédito da Foto: Facebook José Luís Carneiro |
Texto: Ana Clara
Os comentadores já disseram tudo e o seu contrário. Opiniões legítimas. Mas, na verdade, aqueles que acusam José Luís Carneiro de se “chegar à frente”, assim, de rajada, são os mesmos incapazes de questionar os que, querendo, não ousam queimar-se em lume brando numa das piores crises da história do Partido Socialista (PS).
Carneiro quer ir a jogo. Obviamente, que tem há muito o desejo de ser líder do PS. Perdeu para Pedro Nuno Santos em 2023 e, de forma natural, tem o direito de ir (de novo) à contagem. Outros, das elites internas, preferem virar costas quando, a meu ver, deviam dar o corpo às balas, e ir testar quanto valem afinal na contagem de espingardas.
O partido, que saiu tremendamente ferido das legislativas de 18 de maio de 2025, tem pela frente um calendário difícil. E contrapondo aqueles que consideram que não faz sentido haver eleições antes das autárquicas (setembro/outubro), na verdade, podia ser pior a emenda que o soneto. Um PS sem liderança durante meses e com um ato eleitoral tão importante a nível local, seria quase como que se atirar para o precipício de olhos abertos. A juntar a tantos cacos por colar, o partido ainda não tem candidato presidencial. E, apesar disso não depender só de si, também é ruído que não facilita a caminhada do próximo Secretário-Geral do PS.
José Luís Carneiro pode não ser consensual. Mas para quem? Para as máquinas de Fernando Medina, de Mariana Vieira da Silva, Ana Catarina Mendes, Duarte Cordeiro e Alexandra Leitão, que num momento crítico e em que o PS precisa de vitalidade e se fortalecer, viram a cara e assobiam para o lado?
Carneiro vem, tal como Pedro Nuno Santos ou Luís Montenegro, da Província. De um País que foge à regra da capital e da urbe. De um País real, com pronúncia, mas não provinciano. Um homem de Baião e que já provou ser de bem, que está na política pelas razões certas, e que representa uma esquerda no PS que todos elogiam. E que até o próprio Presidente quer ter como interlocutor até sair de Belém.
José Luís Carneiro, que surpreendeu quando se posicionou como alternativa a Pedro Nuno Santos em 2023, conta agora com o apoio das maiores federações distritais, incluindo Porto, Braga e Coimbra. Até antigos rivais, como Manuel Pizarro, se uniram em torno do seu nome. Ao contrário de todos quantos fragilizam esta candidatura, desejo sinceramente que lhe corra bem. A sua marca na Administração Interna, não tendo sido das mais vincadas, deixou pelo menos alguma simpatia. Foi um ministro de consensos. E isso também demonstra a sua capacidade de diálogo, que todos lhe reconhecem.
A confirmar-se, será o único que não teve medo de ir a jogo em tempos sombrios. Ser líder em tempos fáceis, todos querem. Estar disponível para atravessar o deserto, já é outra história. E dos fracos, precisamente, não reza a história.
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