O Jornalismo em 2025
Salários, subsídios de férias e alimentação, tudo em atraso. O cenário não é novo e vai-se repetindo, ano após ano, em vários grupos de comunicação social em Portugal. O mais recente caso é o da Trust in News, detentora de 16 órgãos de informação, em papel e plataformas digitais, entre eles a Revista Visão, a Activa e a Exame. Os títulos têm tentado evitar danos maiores, em condições difíceis, mas não a revista Caras, que não aguentou, e na semana passada, acabou por não chegar às bancas. Sobretudo devido à greve de trabalhadores contra a incúria de quem gere.
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Crédito da Foto: Freepik |
O dano é elevado. Dívidas sem fundo à Autoridade Tributária, à Segurança Social, e que a avaliar pelo diagnóstico, a insolvência da empresa e a consequente liquidação estão aí a acenar há muitos meses.
A novela repete-se e chega até a cansar aqueles que, como eu, por cá andam há mais de duas décadas. Assistimos sempre ao mesmo guião, que se resume a duas coisas: falhanço da gestão e incapacidade estratégica de adaptação às novas realidades e consumo dos públicos. O papel há muito que está em declínio. Não há leitores. Não se lê em Portugal. A tecnologia e a internet mataram o negócio e quem não se adaptou e enfiou a cabeça na areia, qual avestruz, padece hoje desses males inevitáveis. Foi assim há 20 anos quando trabalhei na histórica A Capital, título lisboeta, e é assim hoje em 2025.
No meio de tudo isto, o Jornalismo é a principal vítima.
Atacado onde mais dói, sem dó nem piedade, estando até em causa muitas vezes a
independência de muitos meios e dos seus profissionais. Têm-nos sido vedadas
condições mínimas e dignas de exercício da profissão. Como se sobrevive com
1000 euros, em média, por mês, em cidades, com famílias para alimentar e
despesas para pagar? Como se trabalha, num desafio exigente como é o
jornalismo, diariamente, enquanto os empresários vão delapidando os orçamentos
a seu bel-prazer, ganhando vencimentos estratosféricos em comparação com as
equipas, as mesmas que lhe sustentam a base do tal negócio? O que se tem
passado em Portugal em muitas empresas de media dão sinais e suspeitas que
podem configurar crimes graves. Mas as autoridades e a Justiça farão o seu
papel. Contudo, os seus resultados chegarão, como sempre, tarde demais. Tarde
demais para uma classe, de homens e mulheres, que escolheram a mais bela
profissão do mundo como prova de vida. O Jornalismo vai mesmo nu e
provavelmente já nem ossos restarão quando chegar a hora de contar a história!
*Podcast de 30 de junho na Antena Livre. OUVIR.
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