Estamos em 2025. Passaram oito anos desde a tragédia de 2017, que abalou Portugal como nunca, essencialmente pelas vítimas mortais que deixou pelo caminho. Depois desse fatídico ano, todos percebemos que algo tinha de mudar. Todos o sabíamos, aliás, antes mesmo disso. Todos. Sem exceção.

Hoje, olhando para este negro ano de 2025, percebemos também todos que nada se alterou. Nem politicamente, nem na coordenação operacional e muito menos nas condições difíceis de trabalho dos nossos bombeiros. Junte-se a isso uma reforma da floresta, um ordenamento do território que impera há décadas, um verdadeiro Pacto de Regime para este setor, que proteja o território, as pessoas e os seus bens. O Interior, sabemos bem, sobretudo os que são seus filhos, está abandonado há anos. Sem uma verdadeira estratégia nacional que coloque as pessoas no centro das prioridades. Já chega! Nenhum cidadão deste País pode continuar calado, em silêncio, a assistir, ano após ano, a este flagelo que nos perturba e nos atinge a todos. Em 2017, eu e a minha família, passámos por este inferno na aldeia das nossas vidas, no concelho de Mação. Vincou-nos na pele a dor de uma perda. Mas, pior que isso, é o dia seguinte, os meses depois, os anos que se seguem. Em que as feridas ficam, na paisagem, nas vidas, no futuro. E nesse tempo sombrio, não há câmaras, não há luzes, não há ação. Nesse tempo de sombras, há apenas amargura, dor e uma resiliência atroz para recomeçar de novo. É isso que, década após década, as gentes do Interior, que são portugueses como os de Lisboa, têm de fazer. Isto é justo? Isto é digno? Não é. E nunca havemos de silenciar essa tormenta. A todos os que hoje, ontem e amanhã, combatem no terreno estes incêndios que nos varrem a alma, que tenham a força necessária para resistir, para sobreviver, para serem o baluarte daquilo a que chamamos a verdadeira Portugalidade de um Povo, o nosso! São eles os salvadores do que é possível segurar e manter vivo. Aos nossos bombeiros, um abraço do tamanho do Universo. Sem eles, tudo, mas mesmo tudo, seria diferente.📷 A imagem chega-me através de uma grande amiga, a Célia Sousa, que por estes dias, no meio e com as suas gentes, teve de viver, mais uma vez, o inferno na Terra. Um abraço para vós, estendido a todas as Célias e famílias deste País, que têm na cabeça uma espada que não pediram.
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