Meritocracia: a palavra-chave esquecida
Foto: Portal do Governo |
Foram páginas de jornais. Textos escritos a ferver. Foram notícias sem fim, na televisão, na rádio, na internet.
Foram e continuam a ser. Falo dos sucessivos casos de
familiares em gabinetes sem fim no Governo de António Costa.
Não vou dizer o óbvio, nem aquilo que tantos já disseram nem
sequer falar de ética nem de bom senso.
Vou apenas falar da coisa mais importante que daqui resulta
e da qual ninguém falou.
Falo da meritocracia. Esse conceito que quase assusta mas
que, em tantas décadas de liberdade, democracia e conquista de direitos,
continua algures perdido num beco sem saída.
Enquanto não praticarmos o conceito na prática, tal como
sedimentámos as liberdades, os sistemas de saúde, educação e justiça, como
pontos máximos dos quais não abdicamos, não chegamos a lado nenhum.
Na verdade, conquistámos a democracia, mas estamos muito
longe de ter uma estrutura social digna desse nome.
Pelo caminho, há quem construa carreiras, sem o menor
currículo para os cargos que ocupam, enquanto outros, que, por não fazerem
parte das famílias das elites, estão reféns de um destino incerto.
Sem meritocracia, sabemos todos, nunca havemos de ter um
país de justos.
Uma nota final para dizer também que vai mal o jornalismo
quando, a pretexto de um caso, tenta, desenfreadamente, encontrar outros em
cada esquina. As veias ideológicas de contra-poder instaladas em muitas
redações e o afamado contra-poder em ano de eleições ajuda a explicar o resto.
O povo pode não o ver diretamente, mas quem cá anda, e
conhece as fábricas de notícias, identifica bem as motivações e necessidades de
destruir o poder instalado.
É pena. Porque o contra-poder só valerá a pena quando é
produzido baseado na verdade.
*Crónica desta segunda-feira, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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