Centro-direita cumpre reeleição em Belém
Platonismo Político esperou por resultados mais seguros para analisar a noite eleitoral das presidenciais. A vitória de Cavaco Silva, cujo valor deverá situar-se nos 55 por cento, mostra aquilo em que muitos não acreditaram: a não existência de uma segunda volta. Esta é a noite de Cavaco, mas é também a noite da direita. Cumpriu-se, no pós-25 de Abril, a obtenção de dois mandatos do centro-direita em Belém. Já se percebeu, claramente, que Manuel Alegre e José Sócrates são os grandes derrotados da noite. Ficar abaixo do valor que conseguiu há cinco anos como independente é a maior vergonha para o deputado-poeta. PS e Bloco de Esquerda devem, também, tirar ilações deste acto eleitoral. Os socialistas têm um problema em mãos há muito tempo sobretudo depois do reinado de Jorge Sampaio. A reflexão e a estratégia têm lugar nos próximos cinco anos no Largo do Rato. Já Francisco Louçã deve ter-se arrependido há muito da decisão. Perdeu muito do capital político que conquistou até aqui. Fernando Nobre desiludiu-me. Esperava que o seu humanismo ficasse à frente do incoerente Alegre. Mas o fundamentalismo que exerceu na campanha estragou tudo. O PCP ora nem mais, cumpriu o papel. Mas nota-se cada vez mais uma perda do eleitorado comunista. Quanto ao que todos chamam o ‘tiririca’ nacional, o candidato-Coelho, ao contrário do que muitos dizem, não foi a sensação deste acto eleitoral. O estilo usado nunca teve, historicamente, sucesso no nosso país. Cavaco concluirá, com incertezas, o percurso político em Belém. Não terá vida fácil. O Governo não facilitará. Ainda assim, acreditamos, só um vendaval levará Cavaco a usar a «Bomba Atómica». O País precisa, acima de tudo, de estabilidade política. Sem ela, os nossos problemas, não serão resolvidos. E para os que dizem que está perto de se concretizar o velho sonho de Sá Carneiro, em modo até amargo, é bom que não estejam tão seguros disso. «Uma maioria, um Governo e um Presidente» era um desafio muito específico num quadro conjuntural e estrutural muito próprio. Duvidamos desse futuro próximo, bem como de uma eventual dissolução parlamentar por parte do Presidente agora reeleito.
Duas notas finais: a abstenção é um fenómeno que tem sido, na última década, menosprezada pelos políticos. Há anos que alerto para a necessidade de medidas que a possam reduzir. Mas a classe política é preguiçosa e continua a não dar-lhe atenção. Um dia, ela fará mossa, e será dramático.
A segunda nota vai para o problema informático registado na tarde do dia eleitoral. É a derrota do Governo de José Sócrates em toda a linha. Dizia-me hoje, em tom de piada, um apoiante da candidatura de Alegre: «foi o PS a tentar ajudar na votação de Manuel Alegre». Pois…tem a sua piada. Mas só mesmo q.b. A confusão com o Cartão do Cidadão provou que o Governo de José Sócrates é perito em fazer anúncios com pompa e circunstância, enganar os portugueses e fingir que vivemos num País fantástico. Hoje, terá uma noite de sabor amargo. É, também, um dos grandes derrotados da noite.
Comentários
bjk
gelo
Vence também com mais 34% que o mais próximo adversário.
Lamento que não haja uma segunda volta. O eleitorado fracturado, à esquerda, podia vir a ter outra reacção numa 2ª volta. Ou podia pensar duas vezes em fazer "votos de protesto" e dar uma outra vitória, mais expressiva, a Cavaco.
Mas a legitimidade democrática não se põe em causa, nem nunca se pode pôr: quem não votou, que se lixe. Não é ao Governo que compete apelar ao voto. É à Sociedade ou ao Estado (como quiserem) - coisa diferente do Governo, mas tantas vezes confundida.
Lamento a falta de interesse revelada pelos portugueses na altura das decisões mais importantes da sua vida pública. Cada vez mais me convenço que somos um país de Eças: falamos mal, criticamos, manifestamo-nos contra... mas somos todos, individualmente, um espelho do que criticamos. E quando é preciso mexermo-nos para mudar - alto e pára o baile!!!
Cavaco vence sem grande chama, mas vence à mesma. É isso que ficará para a história (e é isso que merece ficar para a história), não a percentagem.
Alegre e o Bloco saem derrotados. O poeta é vítima da sua posição inglória: um eterno lutador contra o regime nunca poderia ser apoiado pelo regime. O Bloco apostou no cavalo errado e encostou-se, quer queira quer não, ao partido do Governo.
O PS sai derrotado, mas o Governo PS sai vitorioso. Perdeu o candidato do partido, mas venceu o candidato do Governo.
Nobre tem um bom resultado, mas a meu ver aquém do que uma candidatura independente, numa altura de crise (social, política, económica, financeira, desportiva, religiosa, cultura, gastronómica... escolham a crise que quiserem) poderia almejar.
Defensor não merece mais que 5 palavras. Porra, já ultrapassei.
O Tiririca tem um excelente resultado, à boleia de todos aqueles que acham que a política é uma piada. Bom, pensando bem, desse ponto de vista também ficou aquém: 95% do país deve achar que a nossa política é uma comédia.
Mais 5 anos de Cavaquistão. E ou muito me engano, ou nenhuma outra figura teve tanto tempo no topo da política portuguesa no pós 25 de Abril. Nem Soares!
Pronto, já comentei. Nada há a dizer.
Também me esqueci de comentar o resultado do candidato do PP.
Ah, peço desculpa. Não tinham (e não me venham com merdas).
Pois quanto ao voto, e posso falar, bem como todos aqueles que nunca prescindiram desse direito. O que mais me irrita é isso, é o povo passar a vida a criticar e depois na hora em que pode decidir, ficar em casa