Ou se assumem responsabilidades ou criamos agentes vazios de tudo.


Marinho Pinto tem o estilo muito próprio que todos lhe conhecemos. As suas opiniões, sempre muito inflamadas, pecam muitas vezes pelo excesso de tom com que são proferidas, perdendo muitas vezes a razão. Mas, desta vez, não posso estar mais de acordo com  o Bastonário da Ordem dos Advogados. Depois de saber que mais de metade dos jovens candidatos a advogado teve nota negativa no exame final do estágio, alguém tem de assumir responsabilidades. Seja o Estado, em última instância, sejam as Universidades em primeira, ou até mesmo os próprios alunos. Dos números, ficamos a saber que dos 885 licenciados que concluíram os dois anos de formação da Ordem dos Advogados, apenas 367 conseguiram tirar nota positiva e aceder à advocacia. E dos candidatos que alcançaram positiva, as notas foram muito baixas. Nos Açores e Madeira, as reprovações chegaram aos 100%. Marinho Pinto disse ainda outra coisa que sempre também contestei: o processo de Bolonha veio, nalguns cursos, reduzir a qualidade da formação. A supressão de muitas disciplinas e o condensar de matérias só pode dar asneira. Se numas profissões pode não ser significativo, noutras, como a Medicina ou o Direito, as consequências podem ser muito perigosas. Espera-se que a Ordem actue e que o Estado pense realmente nos alunos que anda a produzir, em massa, no Ensino Superior Público. E isto vale de igual modo para o privado.

Comentários

Anónimo disse…
Em Medicina (tal como em Psicologia, Arquitectura e outros cursos) não houve alteração relativamente ao número de anos de formação, mesmo depois do Acordo de Bolonha.
Convém estar informadinha antes de disparar o tiro...
Ana Clara disse…
Na maior parte houve, segundo o que sei. Por acaso dos que refere, caro anónimo, admito que só conhecia Medicina, mas a verdade é que o princípio para mim mantém-se: cinco anos, em muitos casos, é fundamental, e se calhar, até é curtinho...
João Pico disse…
Falaram em cinco anos. Mas em Direito acrescem dois anos de Formação e Estágio, com a avaliação feita pela Ordem que no limite, não terá muito interesse em ver aumentar a concorrência dos seus advogados já estabelecidos.

Não acham estranho, que durante dois anos de Formação e estágio com outros advogados credenciados, os licenciados em Direito não tiveram mais que tempo para acabarem afinadinhos. Se dois anos de "ORDEM" não conseguem melhorar o desempenho da aprendizagem de três na Faculdade, será que só as Faculdades de Direito é que falahram?! Dá que pensar não dá?!
João Pico disse…
E que pensar do que sucede nas ilhas da Madeira e dos Açores, como relata a Ana: "Nos Açores e Madeira, as reprovações chegaram aos 100%."

Acresce outra questão: tem sido a Ordem e principalmente, com este Bastonário, quem mais tem pugnado pela limitação de licenciaturas em Direito, alegando que as saídas para a advocacia estão superlotadas e há muitos escritórios a fecharem. Só neste país é que ainda se colocam situações desta natureza. Não será isto, um dos tais exemplos de " entregar à raposa, a guarda do galinheiro?"
João Pico disse…
Ana,

Nem apropósito, hoje, no blog "Portadaloja" de alguém muito dentro dos Tribunais, o comentário vem reforçar as mesmas dúvidas que ontem aqui coloquei:

Transcrevo um excerto delicioso :

«Resta um comentário: tais chumbos percebem-se porque a profissão de advocacia está repleta de profissionais que competem entre si e o mercado não chega para todos. É só por isso que o BOA tem feito tudo para limitar o acesso à profissão, num exercício que assume por vezes foro de inconstitucionalidade, para não dizer mais.
Sobre este exame, um dos advogados escalados para corrigir os testes, recusou-se a tal por não conseguir resolver o teste de direito processual penal, pela dificuldade que apresentava. E exerce a profissão há 23 anos!
Aposto dobrado contra singelo que Marinho e Pinto chumbava redondamente neste exame.»

E que tal?!

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