A corrupção chegou ao Turismo



Há alguns anos que trabalhei a área do Turismo. Em termos jornalísticos é um setor que tem muito por onde desbravar.

Tive a sorte de estar no terreno, de norte a sul do país, num tempo em que a crise económica e a Troika ainda nem sequer nos tinham batido à porta. Por esta razão assisti ao chamado “boom” que hoje todos conhecem em termos de projetos consolidados.

Conheci as raízes mais profundas de muitas regiões, conheci quase todos os dirigentes das entidades de turismo, associações, empresas, unidades hoteleiras, acompanhei várias feiras nacionais e internacionais do setor, enfim, um rol de pessoas que faziam o Turismo girar.

Faço esta pequena resenha histórica para poder falar da lamentável mas nada surpreendente detenção pela Polícia Judiciária, na semana passada, do presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira.

Lidei com ele em várias circunstâncias, a par de outros seus pares. Falámos longas horas sobre o trabalho da entidade que liderava, do rasgo e injeção de capital público que ia sendo, ano após ano, dado à região.

A par desta, observei, enquanto jornalista, mas também cidadã, ao percurso e trabalho de vários homens e mulheres das mais variadas entidades de turismo. Muitas vezes questionava-me da tão grande galinha de ovos de ouro que nunca parava.

Foram anos a fio disto. No caso de Melchior Moreira, sempre houve qualquer coisa na personagem que nunca me inspirou confiança. A sua forma de agir, a sua expressão sempre dúbia para com jornalistas e, a acrescentar ao pacote, a quantidade de pessoas das quais se rodeava e que, conhecendo-lhes eu as origens, me deixava até algum desconforto na veracidade com que se entregavam à missão.

Dava a sensação muitas vezes, sobretudo em feiras, que o Estado andava a alimentar muita gente e não sabia.

Agora sabe-se que Melchior Moreira e vários outros dirigentes estão indiciados por crimes de corrupção e participação económica em negócio em procedimentos de contratação pública no Norte do país.

Talvez o polvo na área da gestão turística não termine por aqui. O que eu vi durante anos não foi normal e há muito que eu esperava que algo aparecesse. Começou pelo Porto mas não me espantaria que se alargasse a outras regiões do país.

Uma coisa é certa, pelo menos houve muito dinheiro investido na promoção do destino Porto e Norte e, nestes últimos 10 anos, é notório o crescimento turístico da região. Algo que se salve, pelo menos, no meio de tanta alegada corrupção. 

*Crónica de 22 de outubro na Antena Livre, 89. 7 Abrantes. OUVIR

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