Casablanca: a capital económica do Reino que conquista pelo caráter


Quando pensava em Marrocos, Casablanca não era a primeira opção de viagem que me vinha à cabeça. Viria sempre, primeiro, Marraquexe, Ouarzazate, Fez ou Rabat. Quis o destino que a capital industrial e económica marroquina estivesse inscrita na minha primeira viagem a Marrocos. Foi no final de abril deste ano. E conquistou-me pelo caráter.

Texto e Fotos: Ana Clara 

Cosmopolita, com o mar a banhá-la, e considerada a mais populosa do país, Casablanca é uma cidade repleta de luz, a fazer-me lembrar Lisboa, e que recebe como ninguém os seus turistas. 

Chegamos por mar, naquele que é considerado um dos maiores e mais importantes portos do continente africano.


Esta industrialização, contou-nos o nosso guia que nos transportou a manhã toda no seu táxi - de nome Hassan, na casa dos 45 anos, e com uma infinita simpatia marroquina - começou nos princípios do século XX, tendo-se tornado mais intensa depois do final da segunda guerra mundial. 

Quando olhamos para a cidade, a sua arquitetura mais parece saída de uma cidade da América Latina, recheada de inúmeras linhas controversas. 

O planeamento urbanístico de Casabanca, tal como a conhecemos hoje, saíram dos rabiscos dos arquitetos franceses Prost e Ecochart. Grandes edifícios de linhas modernas que contrastam com as construções tipicamente árabes de outras cidades do Reino marroquino. 


O centro da cidade é marcado por grandes avenidas, largas, e repletas de gente, e marcadas, na semana em que a visitámos, por inúmeras obras, de reabilitação e construção. 


No dia em que chegamos, fomos presenteados com um verdadeiro temporal, chuva torrencial e vento, manhã fora. Contudo, e à semelhança de Lisboa, depressa os céus se abriram num perfeito dia primaveril. 

Mesquita Hassan II

Começámos pelo ex-líbris: a mesquita Hassan II, a segunda maior em todo o mundo e construída à beira mar. O mar é, neste caso concreto, um elo importantíssimo, pois a sala de orações lá dentro simboliza uma ligação integrada para que na Terra estejamos sempre ligados por terra, mar e céu. 





A entrada na mesquita custa 12 euros por pessoa, já com guia incluído, e vale mesmo a pena a visita já que lá dentro ecoa uma permanente música que nos transporta para uma paz quase extra-terrena. 

É considerada um ponto de encontro das diversas civilizações - africana, europeia, mediterrânea e árabe - e lá dentro, além de um importante lugar de culto religioso e cultural, há um museu, uma biblioteca e salas para seminários. 


Casablanca é conhecida em todo o mundo pelo icónico filme, de 1942, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Sabemos que não foi aqui rodado mas ainda assim, muitos dos que visitam a cidade, procuram-na também por isso, atira-nos o guia.


E em termos turísticos, a cidade, nos seus cafés e restaurantes, vai capitalizando a fama, existindo o Rick's Café que faz reviver as cenas cinematográficas de "Casablanca" e onde há concertos ao vivo, tal como no filme.

Da Mesquita Hassan II partimos rumo ao coração da cidade. Queríamos ir ao encontro das raízes, entrar nos seus pitorescos e pobres bairros. A pobreza é uma constante nesta Casablanca tida como a capital económica do país. E assim a sentimos, porque era esse o pulso que também pretendíamos ter.




Não pode faltar um passeio pela Praça Mohamed V, uma das mais animadas praças da cidade, seguindo-se a Praça das Nações Unidas e a Avenida de l'Armée Royale. 





Por aqui passamos até chegarmos ao Centro Coulers & Décoration, um verdadeiro reino de tapetes marroquinos e onde nos tentam convencer a comprar 1001 exemplares que, sabem eles e sabemos nós, não podemos trazer, pela logística que a transação implica. 


Os marroquinos têm solução para tudo, são uns verdadeiros comerciantes. Já negociadores nem por isso porque a debilidade económica da sua população depressa desfaz o mito que, à partida, podemos ter sobre este povo. 

Partimos em direção a uma loja de especiarias e ervas, onde o dono, que não tinha menos de 80 anos, era o único ocupante. Mostrou-nos inúmeras ervas, plantas, para chá ou para curar maleitas que a medicina, alegadamente, não consegue.


De trato fácil, maçãs do rosto pintadas pelo passar dos anos que não dá tréguas, saímos de lá com o coração cheio e ao mesmo tempo a sangrar. Aqui a vida é dura, ganhar o salário também, mas o tempo não pára e o povo marroquino não é de desistir facilmente: «sabemos que amanhã é outro dia, e que poderá sempre ser melhor que hoje», atira-nos enquando nos acena ao adeus final. 

Para os que não sabem, Casablanca acolheu, ao longo das últimas décadas, inúmeros eventos históricos. Foi aqui que, em janeiro de 1943, no Hotel Anfa, o presidente norte-americano Franklin Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill fizeram a Conferência de Casablanca, onde estabeleceram a rendição incondicional da Alemanha.

Próxima paragem: Lojas da Medina de Casablanca. Uma espécie de mercado local, onde se pode comprar de tudo o que é tipicamente produção nacional. Desde fruta a hortícolas, passando por tapeçaria, roupa, e um sem fim de objetos de decoração. Aqui tudo se vende e compra. E tudo é negociável, com uma boa dose de paciência. 





É, sem dúvida, uma visita a não perder, porque é aqui que sentimos o verdadeiro pulso de Casablanca, no seu labor diário, e com muitas das suas tradições ancestrais, que hoje ainda se mantém vivas.





Não podíamos deixar de falar de Casablanca sem falar na sua gastronomia. Não escolhemos as recomendações turísticas, até porque no centro da cidade não faltam opções com ementas da gastronomia marroquina. 

Escolhemos um, bem no centro, onde pudéssemos comer cuscuz – as bolinhas de sêmola de trigo, tipo arroz - e a famosa tagine – feita num recipiente de barro, de nome tagine. Eu comi de legumes e não podia ter sido melhor. O Ricardo, de cordeiro, com ameixa e figos. Um mar de sabor, ainda com cheiro a vapor, e fantástico, para os que, como nós, somos fãs da cozinha confeccionada à base de especiarias. 



Na hora de partir, ainda descobrimos a estação de comboios de Casablanca, um edifício moderno e que se assume como uma das dicotomias da cidade. Moderno, de linhas contemporâneas e pintado a branco, parece uma verdadeira pérola, ali, mesmo ao lado de bairros mais pobres e quase a beijar o porto um pouco mais à frente.


Casablanca vale a pena a viagem, mas não é, para aqueles que sonham com as cidades imperiais do país, uma cidade ancestral. Se gostam de modernidade e tradição, então, Casablanca funde, na perfeição, estes dois conceitos.


Saiba mais sobre Marrocos e Casablanca aqui

A próxima paragem é bem diferente, ainda em solo marroquino, e surpreendeu-me pela surpresa total e inesperada tranquilidade: Tânger. 

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