Portugalidade: Belmonte, berço de Pedro Álvares Cabral e pérola da Beira Interior
Situada numa das encostas da Serra da Estrela e com o rio Zêzere a seus pés, nesta vila da Beira Interior, berço do navegador Pedro Álvares Cabral, a vida corre lenta, sendo apenas interrompida, quando a visitámos, pelos grupos de turistas que animam as praças e ruelas.
Subimos ao castelo, visitámos os museus e as igrejas e fomos conhecer a antiga Judiaria e atual Sinagoga, símbolos maiores da comunidade judaica na região.
Em Belmonte, vila da Beira Interior que integra a Rede das Aldeias Históricas de Portugal, e que remonta ao século XII, quando D. Sancho I lhe concedeu o foral, há, como em muitas cidades e vilas portuguesas, uma avenida, considerada ponto central que orienta o turista para a restante localidade.
No caso de Belmonte, é a Rua Pedro Álvares Cabral que cumpre este papel, e onde se situa a maior parte dos serviços da vila, como a Câmara Municipal, agências bancárias, e algumas lojas e cafés. Tal não seria difícil de perceber já que foi aqui que nasceu, em 1467, o navegador Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil em 1500. Em sua homenagem, é nesta rua que está situado o Museu dos Descobrimentos, situado no antigo Solar dos Cabrais, dedicado precisamente a este período da história portuguesa.Ao percorrer as ruas e praças da vila, percebe-se que o navegador português é lembrado em quase todo o lado, havendo igualmente uma estátua em sua memória, de granito e bronze, situada no Largo Dr. António José de Almeida.
O castelo e a Igreja de São Tiago
Prosseguimos viagem rumo ao castelo de Belmonte, construído por D. Sancho I no século XIII. Símbolo defensivo da Reconquista portuguesa, está também intimamente ligado aos Descobrimentos, já que foi residência da família de Pedro Álvares Cabral até aos finais do século XVII. Subimos à Torre de Menagem.
O dia está ventoso mas, ainda assim, permite apreciar a vista. Ao longe, avista-se o vale por onde corre o rio Zêzere e, à volta, a paisagem em tons de verde que se apresenta como um verdadeiro postal turístico da Beira Interior. O silêncio, esse, é apenas interrompido pelo sopro intenso do vento do dia.
Ao percorrermos o castelo, são visíveis as várias transformações efetuadas no pano da muralha oeste, com a construção de várias janelas panorâmicas, destacando-se uma janela de estilo manuelino, da primeira metade do século XVI.
Atualmente o edifício tem funções turísticas e culturais, tendo sido construído um anfiteatro ao ar livre e uma sala oitocentista transformados em espaços museológicos dedicados à história do concelho e do castelo.
Perto do Castelo situa-se a capela de Santo António, mandada edificar pela mãe de Pedro Álvares Cabral, D. Isabel Gouveia, no século XV. Segue-se a próxima paragem, um pouco mais abaixo: a Igreja de São Tiago e Panteão dos Cabrais, um monumento de traço românico, que sofreu modificações ao longo dos tempos, apresentando também alguns elementos góticos e maneiristas, como nos explica a técnica do espaço.
Naquele dia de abril – antes da pandemia chegar -, são muitos os turistas que entram e saem da Igreja, e a responsável está atarefada, não parando um segundo para responder às dúvidas dos curiosos. Porém, conta-nos que não há certezas da data de construção deste templo, tendo talvez sido construído em 1240.
No seu interior destaca-se, entre muitos elementos, uma Pietá, talhada numa única peça de granito da região e pode ainda observar-se o altar-mor, decorado com frescos do século XVI, representando Nossa Senhora, São Tiago e São Pedro, “que muitos dizem ser uma representação de Pedro Álvares Cabral”, explica a técnica.
Situada num dos caminhos portugueses de peregrinação a Compostela, a Igreja de São Tiago seria também um local onde os peregrinos “encontravam um conforto espiritual no decurso da sua jornada”.
Adossado à Igreja está o Panteão dos Cabrais, construído em 1483. A renovação deste deve-se a Francisco Cabral, primeiro alcaide de Belmonte após a Restauração, tal como a ele se devem alguns túmulos renascentistas ali existentes datados de 1630, como explica o painel informativo à entrada do espaço.
A força da comunidade judaicaMais à frente, na Rua da Fonte da Rosa, encontramos a sinagoga de Belmonte, símbolo que comprova a existência de uma comunidade judaica viva na vila. Em Belmonte, uma comunidade de judeus está referenciada desde o século XIII, testemunhada pelo achado de uma epígrafe e datada de 1297. A presença de judeus na vila não é um facto isolado no caso de Belmonte, tendo-se conhecimento da existência de outras judiarias nas cidades, vilas e aldeias da região.
Com a expulsão de judeus decretada por D. Manuel em 1496 e, posteriormente, com a instauração da Inquisição, muitos judeus abandonaram a vila, e os que ficaram professavam a sua religião em segredo.
Atualmente a comunidade judaica de Belmonte, que oficialmente existe desde 1988, tem uma sinagoga nova e um cemitério próprio. A sinagoga foi inaugurada em 1996, encontrando-se orientada para Jerusalém e tem o nome de Bet Heliahu, em homenagem ao judeu benemérito que ordenou a sua construção.
“Acredita-se que é a última comunidade de origem cripto-judaica a sobreviver, enquanto tal, em toda a Europa”, lê-se no documento informativo que nos disponibilizam na autarquia de Belmonte.Daqui, rumamos à antiga Judiaria, estando organizada em torno das Rua Direita e Rua Fonte da Rosa. As estrelas de David nos portões, os castiçais na porta e no gradeamento identificam este templo judaico. No exterior, descobrem-se pormenores como as várias caleiras que sobressaem das paredes recolhendo a água da chuva para o Mikvé (tanque interior onde se tomam os banhos da purificação).
“Os judeus eram sobretudo artesãos e comerciantes pelo que nas suas casas, o piso inferior estava destinado à oficina ou à loja, apresentando este, na maioria dos casos, duas portas. Nas ombreiras destas alguns motivos cruciformes são ainda visíveis”, esclarece Graça Ribeiro, proprietária da casa de turismo em espaço rural Passado de Pedra, em Caria, freguesia do concelho de Belmonte, que nos acompanha na visita.
A viagem a Belmonte começa a chegar ao fim. E, de regresso ao ponto de origem, à Rua Pedro Álvares Cabral, atravessamos o Largo Afonso Costa, onde nos sentamos junto a um banco de jardim para descansar as pernas. De repente descobrimos mais uma história de outro português que marcou a história da vila. Junto ao banco, há uma lápide que homenageia o músico José Afonso, que viveu em Belmonte com a avó paterna e um tio.
Graça Ribeiro, que ainda nos acompanha na visita por Belmonte, diz que a história que “se conta” é a de que terá sido aqui que Zeca Afonso viveu as suas primeiras paixões amorosas e as suas primeiras animosidades políticas em particular com o tio, que era chefe da Legião Portuguesa e Presidente da Câmara. “É uma vila recheada de história e surpresas esta”, remata Graça Ribeiro.Mais informações, aqui.
___________________________________________________________________BI – Belmonte
População: 6859 habitantes
Área: 119.00 km2
Presidente: António Pinto Dias Rocha
Freguesias: 4
Contactos:
Email: geral@cm-belmonte.pt
Site: http://www.cm-belmonte.pt/
Telefone: 275 910 010
Crédito das Fotos: Ana Clara e Câmara de Belmonte.
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