Portugalidade: Aveiro, por essa Ria cantam-se tradições seculares

Se a presença humana em Aveiro remonta, pelo menos, à Pré-História recente, evidente nas mamoas e dólmens existentes não só no concelho como em toda a região, o seu grande desenvolvimento surgiria em período histórico.

Desde sempre ligada a atividades económicas, Aveiro teve na produção de sal e no comércio naval as suas mais valias.

Valioso como bem de troca, o sal, provavelmente já explorado em tempos romanos, está comprovado documentalmente a partir de 959, no testamento da Condessa Mumadona Dias ao Cenóbio [mosteiro] de Guimarães.

Foi nesse mesmo testamento que surge a mais antiga forma que se conhece do topónimo Aveiro, em que Mumadona Dias doa em testamento toda a região ao mosteiro de Guimarães 'Suis terras in Alauario et Salinas'.

Nos inícios do século XV, a edificação de um pano de muralhas em torno do núcleo urbano espelha o prestígio e crescimento que Aveiro teria alcançado. Posteriormente instalar-se-iam as instituições religiosas e assistenciais que, durante séculos, dariam fulgor à urbe ajudando-a a ultrapassar os momentos menos bons vividos, nos séculos XVII e XVIII, com o progressivo assoreamento da barra. Será a abertura artificial desta, concretizada em 1808, que devolverá, paulatinamente, o dinamismo a Aveiro, marcando o início de uma nova época.

A preponderância de imóveis dos séculos XIX e XX reflete bem essa fase, revelando também o desejo de acompanhar o gosto da época, evidente na decoração com apontamentos Arte Nova de alguns edifícios, repetidos noutros locais da região, ou nas linhas depuradas de uma Art Déco e de um Modernismo impulsionado pelo Estado Novo. Hoje o desafio está no campus universitário, palco de atuação dos grandes arquitetos nacionais.

Paredes meias com o progresso, subsiste a tradição em algumas vivências etnográficas, bem como na arquitectura do meio rural da região, onde se fundem várias vertentes da construção tradicional portuguesa materializadas na casa gandaresa. Aveiro conserva também no Alboi e, em particular, no bairro da Beira Mar casas térreas revestidas a azulejo, testemunhos vivos de antigos marnotos [salineiros] e pescadores fiéis devotos de S. Gonçalinho e S. Roque.

À sua frente... a Ria com toda a beleza da sua paisagem mesclada de ilhotas e esteiros a fervilhar biodiversidade.

Depois, o cordão dunar de S. Jacinto com a sua reserva, santuário da natureza, e a pequena povoação marcada pela faina lagunar, pela arte xávega e pela longínqua pesca do bacalhau nos mares frios da Terra Nova.

A preponderância da indústria cerâmica na região não é, apenas, um reflexo dos avanços tecnológicos, resultando antes de uma longa tradição produtiva favorecida pela constituição geológica da região e que remonta, pelo menos, ao período tardo-romano/medieval como o evidenciam os fornos cerâmicos de Eixo.

Hoje, região em franco crescimento económico consegue aliar os testemunhos do passado às exigências atuais, envolvendo a Universidade de Aveiro, num caminho para o desenvolvimento sustentável que garantirá o futuro.

Cidade dos canais

Não podíamos começar esta viagem sem referir a fama da cidade dos canais.

Com a Ria de Aveiro em pano de fundo, esta é a cidade portuguesa dos Canais, para as observar melhor, Ria e Cidade, de locais improváveis e particularmente belos, como são exemplo o novo CMIA – Centro Municipal de Interpretação Ambiental, o Cais da Ribeira de Esgueira, e os Parques Ribeirinhos da Pateira em Requeixo e no Carregal, entre outros.

Aveiro combina a Ria e as suas áreas urbanas mais nobres, numa mistura única entre a água e a terra, em navegações que nos levam a sítios especiais como a Beira-Mar, o Paraíso, o Alboi, a Fonte Nova, que nos permitem contemplar a Arte Nova, a arquitetura industrial, o património histórico e modernas operações urbanas.

Museus

Na cidade fervilha cultura, património e muita tradição. Quem visita a cidade, museus não faltam. Damos conta dos mais importantes, para que, quando for hora de voltarmos a ela, saibamos que aqui há muito para ver.

O Museu da Cidade foi concebido num conceito de museu participativo, envolvendo diretamente a comunidade na construção dos conteúdos museológicos, sendo que pretende ilustrar os momentos, os factos e os protagonistas que, ao longo do tempo, têm dado alma à história de Aveiro.

O setor temporário acolhe exposições de variadas temáticas, reflexo de criatividade, de arte e de cultura de artistas locais, a par com trabalhos de criadores de renome nacional e até mesmo internacional.

Partindo para fora de portas, a própria cidade enquanto abrigo de memórias, transmissora de conhecimento e centro de vida, funciona, também, como parte integrante desta rede municipal. Através de visitas orientadas parte-se à descoberta dos lugares, das histórias e das gentes de Aveiro.

Pode também visitar o Museu Arte Nova, sedeado num dos imóveis mais emblemáticos entre o património desta corrente artística, é o centro interpretativo da extensa rede de motivos Arte Nova disseminados por toda a cidade de Aveiro.

Mais do que repor o ambiente ornamental de uma habitação Arte Nova, este núcleo museológico trata a Arte Nova como argumento didático, pretendendo levar o visitante a refletir sobre os pressupostos da revolução estética que este movimento proporcionou, e melhor compreender os seus reflexos que ainda se manifestam na atualidade.

A visita a este núcleo não fica completa sem a visita à casa de Chá situada no rés-do-chão. Durante o dia com um ambiente mais calmo e relaxante permitindo tirar partido da beleza do próprio edifício, transformava-se à noite (antes da pandemia) num dos bares mais animados da cidade, com música ao vivo durante os fins-de-semana.

Damos-lhe ainda a conhecer o Ecomuseu Marinha da Troncalhada, transformada em Ecomuseu, a marinha da Troncalhada mostra aos seus visitantes os métodos de produção artesanal do sal, explora a paisagem, fauna e flora características, bem como mantém vivas as vivências e tradições ligadas a esta atividade secular.

Caraterizando-se por ser um núcleo museológico ao ar livre, aberto permanentemente, o visitante poderá realizar a sua visita de forma independente consultando os diversos painéis interpretativos que a marinha dispõe. Pretendendo um conhecimento mais aprofundado poderá solicitar uma visita guiada acompanhada por um dos técnicos dos serviços educativos do Museu da Cidade [mínimo 6 pessoas].

Apesar do caráter sazonal da produção de sal tradicional caraterístico, as visitas guiadas a este núcleo museológico poderão ser solicitadas todo o ano, sendo asseguradas em espaço interior, caso as condições climatéricas não sejam favoráveis.

Parque da Cidade

Ao ar livre tem o Parque da cidade, com a mais-valia de poder percorrer o centro, através dos percursos pedonais existentes, numa área com cerca de 20 hectares, representando o maior contínuo verde no centro de Aveiro.


Há circuitos de manutenção, o campo polidesportivo de relva sintética, o skate park ou o campo de ténis, todos de utilização gratuita. 

A Praia de São Jacinto ali tão perto

Em Aveiro, a praia também está ali ao lado, e é uma das mais conhecidas do norte do País. Galardoada com a atribuição da Bandeira Azul, a Praia de São Jacinto é uma das maiores atrações do concelho, onde, no tempo estival, pode não só visitá-la como usufruir da beleza natural, sem esquecer a Base Militar Centenária e o Centro de Alto Rendimento de Surf.

Sabores da Ria

Falar de Aveiro, claro, é falar de ovos moles, mas há muito mais do que isso para descobrir na longa lista de pratos regionais. Pode conferi-los no 'Sabores com Tradição', o guia digital que ajuda a compreender a gastronomia aveirense, através dos restaurantes da cidade, que preparam pratos com os mais identitários ingredientes locais.


O Guia Gastronómico, disponível todo o ano, dá a conhecer os Restaurantes Aderentes nos quais pode saborear pratos com enguias, mexilhões, ostras, algas, bacalhau de cura tradicional portuguesa, carne Marinhoa DOP, acompanhados de Vinhos e Espumantes da Região Demarcada da Bairrada, terminando a refeição com a Bandeja de Aveiro, composta por Licor de Aveiro e Aguardente da Bairrada.

Das abordagens mais tradicionais às mais contemporâneas, os restaurantes aderentes são a montra dos sabores da cozinha regional. Além de promover os produtos tradicionais, Aveiro, Sabores com Tradição já realizou seis edições do seu Festival gastronómico com a participação de restaurantes da cidade.

Leia também esta reportagem que fizemos há uns anos em Aveiro sobre a doçaria local

Motivos para visitar uma das cidades mais desenvolvidas e jovens do País, não lhe faltam. No pós-pandemia, a portugalidade precisa de nós. Aveiro pode bem ser uma das suas melhores opções. 

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BI – Aveiro

População: 78450 habitantes

Área: 197.00 km2

N.º de freguesias: 10

Presidente da Câmara: Ribau Esteves

Contactos:

Email: geral@cm-aveiro.pt

Site: https://www.cm-aveiro.pt/

Telefone: 234 406 300

Fontes e Crédito das Fotos: Câmara de Aveiro, Turismo do Centro de Portugal.

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