E desta, lembram-se?


«Não importa sol ou sombra

camarotes ou barreiras

toureamos ombro a ombro as feras.

Ninguém nos leva ao engano

toureamos mano a mano

só nos podem causar dano espera.

Entram guizos chocas

e capotes e mantilhas pretas

entram espadas chifres e derrotes

e alguns poetas entram bravos cravos e dichotes

porque tudo o mais são tretas.

Entram vacas depois dos forcados

que não pegam nada.

Soam brados e olés dos nabos

que não pagam nada

e só ficam os peões de brega

cuja profissão não pega.

Com bandarilhas de esperança

afugentamos a fera

estamos na praça da Primavera.

Nós vamos pegar o mundo

pelos cornos da desgraça

e fazermos da tristeza graça.

Entram velhas doidas e turistas

entram excursões

entram benefícios e cronistas

entram aldrabões

entram marialvas

e coristas entram galifões de crista.

Entram cavaleiros à garupa do seu heroísmo

ntra aquela música maluca do passodoblismo

entra a aficionada

e a caduca mais o snobismo e cismo...

Entram empresários moralistas

entram frustrações

entram antiquários e fadistas

e contradições e entra muito dólar

muita gente que dá lucro as milhões.

E diz o inteligente que acabaram as canções».




José Carlos Ary dos Santos

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