Feliz Natal, Carlos!

Viveu cada minuto da sua existência tão intensamente como se fosse o último. Tinha um jeito peculiar de contemplar o mundo. Via-o através de um olhar arrebatado, carregado de alegria. Era uma criatura silenciosa, afável e comunicadora, com sangue na voz ao mesmo tempo. Amava a vida, toda ela, na sua plenitude. Amava, de igual modo, as palavras, a causa maior de todas as suas mágoas, mas de todas as suas alegrias, de todos os seus desencantos, mas também de toda a força do mundo, de todas as suas frustrações, de todos os seus desencontros, de todos os seus desamores mas também dos seus amores. O seu quotidiano era feito de muitos pequenos nadas. Coisas que para os outros eram insignificantes, mas que para ele eram o cerne da sua existência. E em tudo o que fazia, as palavras estavam presentes. Palavras que diziam do bem, do bom e do belo que a vida encerra, e poucos eram os que sabiam desbravá-las. Tinha um sorriso afectuoso, que incorporava às palavras e distribuía pelas ruas como se de panfletos se tratasse. Tomei as suas palavras. As de mestre. No seu sorriso complacente. O mundo tornara-se um lugar de urgências, cheio de gente vazia e apressada, onde viver era caminhar para o nada, passo a passo. Arrastava-se por esse mundo esvaziado, carregando todas as suas palavras às costas, não como se carregasse um fardo, mas como se transportasse o destino do próprio mundo. Até que um dia…sucumbiu no trono da arte para a qual nasceu: o jornalismo. O aguerrido, o combativo, nunca passivo. Deixou ao mundo, nas últimas horas e em jeito de despedida, a sua luta de uma vida inteira: a tristeza de que vai mal o jornalismo em Portugal. Em tempo de Natal, e ainda fortemente ferida pela sua partida, fica a lembrança, ainda muito dormente, de quem vive contigo em pensamento. Feliz Natal, Carlos, estejas onde estiveres. Na noite de Natal falarei contigo, como sempre. A diferença é que do outro lado do telefone não terei a tua gargalhada, a tua alegria nas palavras. É como se tivesse, porque tu estarás lá à mesma. Em silêncio de amar profundo. O meu.

Comentários

Bruno Salvado disse…
Feliz Natal, Ana Clara.
Ana Clara disse…
Bruno...obrigada! Sei que compreendes o que sinto. E sabes que não precisas dizer nada. Feliz Natal também para ti, Chefe. Beijinho*

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