Quando a rua fala.


2 de Março. Um país inteiro saiu à rua. Não importam os números. Não importa se foi a maior, nem sequer estou interessada em saber se foi mais expressiva que a de 15 de Setembro.
A manifestação popular, ordeira, silenciosa à vezes, cantando a Grândola de Abril noutros momentos, e que se viu no sábado passado tem de ter reacção. Reacção de um Governo que não pode ignorar a rua, não pode fingir que não sabe, que não pode mais fechar os olhos ao desemprego, às dificuldades de milhares de lares e à agonia de um país que aguenta como pode.
Sabemos que precisamos limpar a podridão que outros, antes destes, fizeram. É preciso ter noção que não temos dinheiro para pagar salários nem pensões se não cortarmos em despesas que são também elas o Estado social.
Contudo, não podemos aceitar tudo. O protesto, a manifestação, a tal «luta» que muitos gritam serve para mostrar que somos nós os donos das urnas. E que somos nós os principais protagonistas de uma política que mais do que de austeridade é de disciplina.
Pedro Passos Coelho tem de ouvir o grito. Vítor Gaspar também. Mas o povo, o mesmo que merece ser ouvido, tem de perceber que não é este Governo o responsável pelo desvario das contas públicas. Foram outros, das suas famílias políticas e de outras casas partidárias.
O mesmo povo tem de ter coerência suficiente para perceber que mandar lixar a Troika é ficar sem dinheiro para salários, é ficar sem dinheiro para pensões é o primeiro passo para criar um país de esqueletos.
E o maior drama deste país em sofrimento é que sabe, mesmo que agora não pense nisso, que a alternativa à Troika e ao actual Governo é um PS dilacerado, é um António José Seguro sem uma única ideia e que conduzirá o país, em dias, à falência.
O Povo definha e não merece, em boa parte, o que está acontecer. Mas o mais dramático é que não temos alternativa a não ser limpar um país que construiu um castelo de penas em quase 40 anos. E esse, digo eu, é o nosso maior sofrimento.

*Crónica de 4 de Março na Rádio Antena Livre, 89.7, Abrantes.

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