Salário mínimo e afins.
Pedro Passos Coelho disse, na
semana passada, no Parlamento, que está fora de causa aumentar o salário mínimo
nacional, que se situa, em termos líquidos, nos 485 euros. As declarações do
Primeiro-Ministro foram justificadas com o argumento de que tal seria um erro, um
sobrecusto para as empresas e uma barreira à criação de emprego em
Portugal. No
mesmo momento, Passos Coelho socorreu-se do exemplo da Irlanda que fez
exactamente o mesmo quando se viu confrontada com as mesmas circunstâncias
políticas que Portugal. É pena
que o Primeiro-Ministro não tenho também dito que o ordenado mínimo na Irlanda
rondava os 1400 euros mensais, e, mesmo com o corte, ficou acima de mil euros. De
seguida, veio o maior embuste do regime, que actua na sombra do Governo encher
a boca para dizer asneira. António Borges, o sr. Conselheiro para as
Privatizações, perdeu ainda mais a vergonha. Diz ele que o ideal até seria
reduzir o valor do salário mínimo nacional. Sabemos
que nos indicadores de produtividade, de salários baixos e de desemprego
estamos no fim do ranking europeu. E
o que entristece é ver que o futuro deste país está a ser colocado em causa, à
custa, unicamente, de um programa de austeridade. Não há economia que resista
com uma política de salários baixos. Não há país que sobreviva caminhando para
a miséria que estão a criar. Reduzir os custos de trabalho pode até ser
aceitável, mas há limites para essa redução. E nem o neoliberalismo mais puro o
defende. Há
40 anos que andam a brincar ao Estado do faz de conta. Podem continuar a
brincar, mas não insistam nos testes com o povo, parem de tratar as pessoas
como números. Um dia vão olhar e não há país. Não há povo. E sem povo, meu caro
Primeiro-Ministro, não há nada para governar.
Crónica de 11 de Março na Antena Livre, 89.7, em Abrantes.
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