O tempo da silly season já não é o que era.
O tempo da silly season já não é o que era. É certo que
continuamos a ter o país habitual das reportagens das praias, das férias dos
políticos, das festas e romarias que enchem Agosto de norte a sul e do
famigerado regresso da comunidade emigrante. Contudo, a crise continua a estar em todo o lado nestas
mesmas reportagens com honras de abertura nos telejornais às oito da noite. E é por isto que tenho saudades da tal silly season bem
fútil. É que hoje, assistir a uma qualquer notícia a partir de um areal, é ver,
in loco, juízos de valor permanentes dos repórteres, que muitas vezes, quando
perguntam e questionam já estão a dar a resposta: sim, a crise mudou a nossa
vida. Sim, estamos nesta praia para poupar. Sim, estou desempregado. Sim, não
tenho dinheiro para férias na Manta Rota ou na Comporta. Há 20 anos o tempo da silly era bem mais divertido porque nos
poupava a tristes espectáculos desta natureza. Antigamente a silly season era
uma verdadeira silly. E tal como em tudo, esta crise económica também nos está
a levar este mês de Agosto em que queríamos mesmo uma pausa nos restantes 11
meses. Entretanto, neste mesmo tempo estival vamos ficando a saber
que as eleições autárquicas de 29 de Setembro vão custar 14 milhões de euros,
que temos juízes que consideram que trabalhar alcoolizado é normalíssimo e que
temos gente a governar-nos cujos currículos estão repletos e inundados de teias
alegadamente corruptas. Resta-nos esperar pelo fim do mês, onde temos por cá nova
visita dos homens da Troika para a oitava e nona avaliações, e onde realmente
acordaremos, de novo, para vida. A silly à moda antiga já não deve voltar porque o futuro
deste rectângulo à beira mar plantado é negro, como sabemos. Talvez tenhamos de
reinventar uma nova temporada estival, sem preconceitos, sem dilemas, e com
tudo aquilo a que temos direito.
Crónica 5 de Agosto, Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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