Dignidade, precisa-se!


Na semana passada o País assistiu a um debate inédito em Portugal. Quatro dos últimos ministros das Finanças da última década debateram em Lisboa o presente e o futuro do país, depois da saída da Troika em Maio próximo. Ouvi atentamente as intervenções de Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Teixeira dos Santos e Vítor Gaspar. E, ao contrário do que muitos têm dito e escrito sobre o tema, vi também quatro economistas a convergirem no essencial: de que é preciso pagar a dívida. Une-os este ponto, afastando-os a dose de austeridade, que só Gaspar continuar a ver como solução. Contudo, e para os mais distraídos, a verdade é que todos eles foram responsáveis pelas finanças públicas na última década em Portugal. E todos sabem que, depois de os credores irem embora, terá de haver um mecanismo de controlo para quem formar Governo em 2015. Seja como for, e apesar de a Alemanha querer a «tal saída limpa» do programa para provar que na Europa do Sul há um país que cumpriu, a verdade é que sem programa cautelar o futuro dos portugueses será ainda mais sombrio. Sempre defendi esta solução, porque sem um programa que acautele os desvarios populistas e eleitoralistas, os disparates não tardarão a aparecer. E daí à tourada do despesismo é um passo, muito curto, por sinal.
Uma coisa é certa, a dose de austeridade não pode continuar, e este parece-me ser o ponto que afasta Ferreira Leite e Bagão Félix da cegueira de Gaspar. As pessoas têm de estar primeiro, não só nos discursos, mas acima de tudo na prática. Ou atenuam a dose aplicada ou não haverá futuro geracional para este país.
Em Maio saberemos o que nos espera. Com ou sem Troika, precisamos todos de uma economia sã, mas com condições dignas de trabalho, de vida e, acima de tudo, de alguma dignidade, ou do que resta dela.

*Crónica de 24 de Março, Antena Livre, 89.7, Abrantes

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