Scorpions. A crítica justa.

Fará sentido uma banda separar-se numa altura em que, apesar da idade, continua a encher os sítios por onde passa e a assinar espetáculos que, à exceção de um ou outro pormenor, fariam corar muitos músicos com metade da sua idade?
É essa a pergunta que fica no ar numa altura em que os últimos acordes de "When the Smoke is Going Down" ainda se ouvem numa Meo Arena cheia de gente totalmente rendida ao charme maduro dos Scorpions e, sobretudo, aos seus temas mais emblemáticos. Para o público a resposta parece óbvia na altura de lidar com o facto de que esta pode ter sido a derradeira passagem dos cinco músicos por Portugal - pela segunda vez, no espaço de três anos, o espaço no Parque das Nações encheu-se para lhes dizer adeus.
Klaus Meine, Rudolf Schenker, Mathias Jabs, James Kottak e Pawel Maciwoda, por seu lado, parecem ainda não estar totalmente certos do que será o futuro de uma banda que se juntou pela primeira vez em 1965 para lançar o primeiro dos seus 18 álbuns sete anos depois.
Percebe-se facilmente porquê; é a longevidade e, consequentemente, a idade, que mais impressionam ao vermos o grupo hoje em palco. Não porque aparentem estar acabados ou cansados, nem por um momento se arrastam, mas porque transmitem uma energia que, para gente já na casa dos 50 ou 60 anos, chega a parecer quase sobrenatural.
De resto, Klaus é o único que demonstra a ocasional fragilidade, seja a nível vocal ou físico, mas por esta altura o resto da banda já sabe exatamente como compensar a postura cada vez mais estática do seu vocalista, com Schenker e Jabs a percorrerem incansavelmente os dois níveis do palco de lés a lés, assim como a "passadeira" que se estende pela plateia, durante as quase duas horas que dura um espetáculo desta digressão - que já foi Get Your Sting and Blackout, passou a The Final Sting e agora é Rock'n'Roll Forever.
Para todos aqueles que assistiram à última visita dos Scorpions a Lisboa, as diferenças a assinalar, tanto a nível visual como de alinhamento, são mínimas. Com imagens da banda em 1983 projetadas nas três grandes telas de vídeo montadas como pano de fundo do palco, eram já 21:15 quando o baterista James Kottack subiu sorrateiramente para trás do seu enorme kit e, ainda antes da plataforma da bateria subir a uma altura de quase três andares, deu o salvo de partida para "Sting in the Tail" na companhia de Schenker, Jabs e Maciwoda, juntando-se rapidamente aos quatro instrumentistas o vocalista Klaus Meine e o seu registo muito peculiar.
O som, desde o início bem forte e equilibrado, não tornava muito complicado adivinhar o que se iria passar nos 120 minutos seguintes, com os músicos a mostrarem-se uma máquina incrivelmente oleada, capaz de competir com os companheiros de exportação conterrâneos da indústria automóvel.
Apoiados num setlist irrepreensível, que tanto vai da fase mais roqueira a todas as baladas da praxe, passando pelo exuberante, imaginativo e já lendário solo de Kottak, por um esquema de luzes e efeitos visuais a preceito, pela pirotecnia certeira em momentos chave, pelas habituais acrobacias guitarrísticas e, claro, pelas inúmeras declarações de amor por parte de Meine ao público nacional, com quem confessou manter um "love affair" desde que os Scorpions começaram a vir cá, assinaram duas horas de rock'n'roll carregado de invulgar energia.
Das escolhas óbvias, mas incontornáveis, como "Loving You Sunday Morning" ou "Holiday" a outras mais obscuras, "Raised on Rock", "Tease Me Please Me" ou "Hit Between the Eyes", recebidas de forma menos entusiasta por quem estava lá para ouvir os êxitos, aquilo a que se assistiu foi um verdadeiro concerto de rock'n'roll feito segundo as regras do mainstream dos anos 80, com tudo o que de bom e de menos bom (a Flying V acústica, a Fying V que deita fumo, o duelo de "oh yeahs" com a plateia que começa logo ao quarto tema do alinhamento) isso acarreta.
No final, depois de dois encores para os quais guardaram três trunfos chamados "Still Loving You", "Wind of Change" e "Rock You Like a Hurricane", deixaram bem claro que, para os Scorpions e a sua enorme legião de fãs, com mais ou menos azeite, o rock'n'roll é mesmo para sempre.

ALINHAMENTO:
Sting in the Tail
Make It Real
Is There Anybody There?
The Zoo
Coast to Coast
Loving You Sunday Morning
The Best Is Yet to Come
Send Me an Angel
Holiday
Raised on Rock
Tease Me Please Me
Hit Between the Eyes
Kottak Attack
Blackout
Six String Sting
Big City Nights

Encore
Still Loving You
Wind of Change
Rock You Like a Hurricane

Encore 2
When the Smoke Is Going Down

Texto: José Miguel Rodrigues (Blitz).

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