Duelo Seguro/Costa e as esperanças que não temos.
No primeiro debate, histórico, que opôs António José Seguro e António
Costa, houve nuvens que fizeram relembrar, em parte, a política à moda antiga. Uma arte e ciência políticas antes de a Europa perder o rumo em relação ao
caminho. E é preciso dizê-lo: a austeridade, as políticas seguidas e
seguidistas no Velho Continente e a forma como alteraram as regras da União
mudou, profundamente, a forma de fazer política em quase todas as democracias
europeias. A Velha Europa sabe que já não alcança votos de forma tradicional.
As formas de comunicar revolucionaram-se e os antigos comícios à moda antiga são, já
hoje, uma miragem, tendo dado lugar às redes sociais, à comunicação em tempo
real, etc. É aqui que hoje a política se exerce, sem regras nem disciplina e de
forma até desordenada. Adiante. No primeiro debate que opôs dois militantes do
mesmo partido à procura da paz interna, houve surpresas. Poucas, é certo, mas
houve. E falo da forma como Seguro se preparou. Aqueles que apoiam Costa
decerto que não esperavam tanta garra afiada, tanta preparação e sobretudo
ataques incisivos que deixaram o edil lisboeta sem capacidade de reacção. E
para quem, como eu, acompanha o país político de forma intensa, foi igualmente
surpreendente ver como o António José Seguro que ontem se mostrou parecia outro, bem
diferente do secretário-geral do PS a que estamos habituados. Será este o
verdadeiro Seguro? Não sabemos. Sabemos sim que, mesmo para aqueles que já
perderam a confiança nesta classe política, e que assistiram ao confronto de
ontem, a surpresa não bastou.
António Costa, apoiado pelo velho PS, com valor e mérito, terá no debate de
hoje de entrar no jogo, porque na estratégia de Seguro (como à moda antiga) já
se percebeu que o respeito pelo passado ou o esquecimento da «traição» vão ser
difíceis de eliminar. Num partido como o PS, chegar a um espectáculo destes é terrivelmente
desolador. Falamos de um dos maiores partidos nacionais, falamos de um partido
de quadros (pegando na definição ancestral que sempre se aplicou em Portugal em
matéria de sistema político) e de poder, com responsabilidades políticas e
sociais. Este é um filme que assenta bem em partidos como o CDS e o Bloco, e
não em partidos que têm mais obrigações que os outros. Polémicas à parte, e aconteça
o que acontecer no final do mês, é bom que tanto Costa como Seguro se comportem
à medida daquilo que é a situação difícil que o país vive e que irá perdurar
por muito tempo. No campo da batalha política não vale tudo. Aí concordo com Seguro, porém, não me mesma razão de origem. Mas pelo menos,
tanto um como outro (apesar das fraquezas que transportam e que colocam os
cidadãos de pé atrás) ainda estão mais imunes às críticas, já que em analogia
com Portas e Passos, estes dois já estão anos-luz à frente no que à asneira diz respeito. Só é pena que dois homens que disputam a corrida a São Bento não tenham, em 35 minutos, dado uma única ideia para o país. Esta é outra crise que também nos assola e preocupa: a falta de visão, de ideias e de rumo. E isto, desculpem-me, mas não tem nada que ver com a política de austeridade, tem sim que ver com pessoas, com pensamentos, com ideias que caracterizam os Homens. Acima de tudo, o Largo do Rato precisa de paz, sem memórias passadas
(nada boas por sinal), sem fantasmas e, acima de tudo, sem medos de «pegar no
touro pelos cornos». Touros somos todos nós, a precisar de esperança. Ou, no
mínimo, de alguém que represente algo parecido. Seja como for, mais desânimo que todos já temos nas nossas vidas não há-de haver, por isso, é melhor pensar na Fé, que essa sim, move montanhas.
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