Muro de Berlim. 25 anos depois e tantas muralhas por derrubar.
Este domingo
comemoraram-se os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Naquele gélido Novembro
de 1989 eu tinha apenas oito anos. Mal sabia distinguir a Europa do resto do
Mundo. Na pele de
criança que vivia uma infância no Interior do País jamais naquele tempo eu
saberia que o Mundo acabava de colocar termo a uma Guerra Fria que durou
demasiado tempo. A
primeira pedra daquele que ficou conhecido como Muro da Vergonha havia de cair por
terra a 9 de Novembro de 1989. Hoje, em 2014, e no momento em que a Europa vive uma crise de valores, de
destino e de futuro, há uma nova Guerra Fria a emergir. A começar no coração da própria
Alemanha e a terminar nas tensões entre Ocidente e Rússia. A busca de diálogo, de
confiança diplomática e de caminhos paralelos que a queda do Muro de Berlim
significou há 25 anos perdeu-se. Hoje tudo isto está em
causa. E está em perigo, sobretudo entre uma Rússia de Putin que ameaça e uma
Alemanha de Merkel que segue em frente sem ouvir ninguém, arrastando uma Europa
inteira para a fraqueza nos palcos internacionais. Do outro lado do
Atlântico há outros muros criados. Uns Estados Unidos que vivem, sobretudo na
última década, o terror que vem do Oriente, uma forma de lutar que atenta
contra a vida em nome de extremismos religiosos incompreensíveis à luz do mundo
Ocidental. Ao contrário dos muros
derrubados há 25 anos, hoje há novas e diferentes muralhas para derrubar. Muros
que se erguem da Catalunha à Ucrânia, de Moscovo a Lisboa. A crise económica, que
atingiu o coração das velhas democracias europeias, colocou à tona as
fragilidades do poderio da Europa central, mostrou em como o projecto europeu,
em pouco ou nada saiu do papel. Que despontem novos
líderes, novas correntes e novas esperanças que nos alimentem o sonho de deixar
às gerações futuras um Mundo sem barreiras onde povos e sociedades coabitem em
diálogo, cooperação, humanismo e justiça. Acima de tudo é um novo
século de Luzes que a Velha Europa precisa. Que a Alemanha, que não perdeu os
velhos hábitos da sua essência identitária, abra os olhos e evite erros
semelhantes aos do passado. A História não se repete, é certo. Mas a distância
entre o esquecimento e a arrogância é curta. Daí ao abismo é um passo.
*Crónica de 10 de Novembro, Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR AQUI.
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