O Cante e o Vinho como patrimónios elevados ao Mundo.
Esta
semana o País vai assistir a dois momentos muito importantes. Dois momentos que
evocam símbolos maiores da nossa identidade, da nossa história, daquilo que
somos. Provavelmente
nenhum português vai dar nem por um nem por outro acontecimento. Falo do cante
alentejano que esta semana saberá se a Unesco lhe concede o título de
Património Imaterial da Humanidade. Manifestação de um povo que canta os trabalhos do
campo, os bailaricos, as festas religiosas e os estados de alma dos poetas
populares, a candidatura do cante
alentejano foi entregue à UNESCO em Março de 2013, depois de em 2012, o
Ministério dos Negócios Estrangeiros ter decidido adiar a sua apresentação, por
considerar que o processo não reunia condições para ser aceite. Agora, o Comité Internacional da UNESCO, que
reúne em Paris esta semana, irá pronunciar-se sobre esta forma tão única de ser
tão alentejano, tão português, tão lusitano. Apesar de esta prática ter nascido
e estar fortemente enraizada no Alentejo, a verdade, é que tal como o fado, ela
representa uma das nossas maiores raízes ainda em estado vivo. Seja qual for
o veredicto, e a UNESCO já fez saber que o sim estará mais certo que o não, a
verdade é que será mais um momento grandioso para a cultura de um país que
precisa cada vez mais de referências. Também esta
segunda-feira ficaremos a saber qual a cidade portuguesa que irá ostentar o
título de Capital Europeia do Vinho em 2015. Concorrem três regiões: a sub-região de Monção e Melgaço, a Bairrada e Reguengos de
Monsaraz. Três territórios diferentes num país pequeno mas que tem dado provas
de sustentabilidade e crescimento no sector vinícola, como poucos conseguem
fazer. A distinção irá elevar uma das principais actividades
económicas que contribui para as exportações portuguesas. Uma distinção que é
valiosa para aumentar o potencial das economias locais e o desenvolvimento das
populações. Aconteça o que acontecer Portugal tem razões para se sentir
orgulhoso de duas riquezas patrimoniais e culturais como são o cante e o vinho. Que vença o melhor e que o
cante se consagre património do Mundo para que possamos abri-lo também a outras
culturas e partilhá-lo além-fronteiras. Uma nota final para falar do
estrondo deste fim-de-semana com a detenção de José Sócrates para
interrogatório policial no âmbito do processo judicial que investiga indícios
de corrupção e branqueamento de capitais em relação ao antigo primeiro-ministro. O tema, sensível, merecerá
da minha parte uma análise. Até pelas implicações que o caso enverga. Contudo,
neste momento não há nada para comentar, não há nada para avaliar. Não há nada
para dizer. Deixemos a Justiça funcionar, paremos e respeitemos a
condição de presunção de inocência de José Sócrates. Os atropelos
judiciais, mediáticos e de ética que temos visto, neste e noutros casos, não
dignifica em nada o Estado de direito, a democracia portuguesa, os cidadãos nem
a condição de um Homem que tem, à semelhança de qualquer cidadão, o direito à
sua defesa e à presunção da inocência, como dita a lei. Aconteça o
que acontecer, amanhã voltará a haver país e é nele que nos devemos deter. Nas
nossas vidas e num futuro cada vez mais recheado de esperança.
*Crónica de 24 de Novembro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
P.S. - Esta segunda-feira Reguengos de Monsaraz foi eleita Cidade Europeia do Vinho 2015. Esta segunda-feira José Sócrates, ex-primeiro-ministro de Portugal foi preso preventivamente no âmbito do processo 'Marquês' que investiga a prática de branqueamento de capitais, fraude fiscal e corrupção.
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