Estranha forma de ser velho em Portugal.




O tempo que vivemos é de propaganda, e apesar de estarmos em pleno mês de agosto, enquanto meio país está a banhos. Mas entre polémicas menores de cartazes e troca de acusações entre partidos, aprovam-se medidas com impacto social suficiente para que a mensagem passe. E passa, mesmo que não faça mossa no próximo dia 4 de outubro, nas mesas de voto de norte a sul. Há menos de uma semana o Governo aprovou, em Conselho de Ministros, a Estratégia Para o Idoso, que prevê a repressão de todas as formas de violência, abuso, exploração ou criminalização do abandono de idosos. Obviamente que as todas as medidas, ainda que avulsas e apressadas, que protejam os idosos e condenem abusos sobre eles, são bem-vindas. O que nos questionamos é por que razão se demorou tanto a avançar com medidas, neste ou por parte de outro qualquer Governo anterior. Por que razão só agora, a menos de dois meses de eleições, o atual Executivo avança com algo concreto nesta matéria. É pelo timing que, de facto, a classe política perde a razão, tornando a medida, que é de aplaudir, demagógica. Ao mesmo tempo que o poder político o faz, esquece-se do sofrimento que nos últimos quatro anos, provocou aos nossos velhos, como o corte nas reformas já por si magras e assucessivas reduções nos apoios sociais. A ideia de que uma mão lava a outra não sai bem ao Governo no caso. Os números da economia, do desemprego, da falência de empresas e pessoas, estão aí. E os idosos, que merecem, como ninguém um fim de vida digno, são os que menos descanso têm tido. A angústia de ver filhos e netos sem emprego, o sacrifício que têm feito pelos seus e a solidão a que, muitas vezes, estão confinados, faz do nosso país um lugar horribilis para envelhecer. Não, este país não é para velhos. Nem para novos nem para ninguém. Este país, delapidado pelas exigências dos mercados, tornou-se num lugar estranho e conduziu-nos a todos numa igual estranha forma de viver.

*Crónica de 17 de Agosto de 2015, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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