Portas. «Vou só ali e já volto».
Dezasseis anos depois, Paulo
Portas anuncia o abandono da liderança do CDS-PP, garantindo que não se
recandidata à presidência que consagrará nova figura em conclave lá para abril de 2016. É
atualmente o líder que há mais anos comanda um partido em Portugal. Isto prova a
vitalidade de quem nunca deixou morrer em si o objetivo que consumou nos primórdios do
Indy no final dos anos 80. Quem conhece o presidente centrista e a sua
história, sabe que este anúncio de saída de cena (pouco esclarecedora) pode bem
vir a ser um embuste. Desde 1998, ano em que chegou
à liderança no famoso congresso de Braga, saltou fora dois anos (entre 2005 e
2007), dando a vez a Ribeiro e Castro. Uma saída que mostrava, à época, que
seria sol de pouca dura, como o tempo veio a demonstrar. Quem, na altura,
estava dentro dos meandros das estruturas partidárias, sabia que não demoraria
muito. Lembro-me de uma entrevista que fiz ao seu sucessor, Ribeiro e Castro
(com o então jornalista e colega Bruno Henriques da Silva para A Capital), no Largo do Caldas,
no início do verão de 2005, e onde o fantasma Portas não desarmava. Na sede respirava-se o ‘portismo’ em todas as divisões do edifício, em todos
os olhares dos funcionários do partido, em suma, em toda a envolvência centrista. Recordo
a história para dizer que não acredito que se encerre o capítulo Portas na
política nacional e na história do CDS. Uma história que deve quase duas
décadas a um homem que fez de um emblema a imagem de si próprio, criando
dependências que nunca foram resolvidas. Assunção Cristas, Pedro Mota
Soares, João Almeida e o famigerado nome de Nuno Melo são os naturalmente apontados.
Especulações à parte, de quem avançará ou sucederá ao «querido líder» (aposto num nome mas não me apetece já dizê-lo) são, por
ora, inúteis. A política, tal como o futebol, é também ela muito pouco
previsível. As jogadas agora são de bastidores e de pouca clareza a maioria das
vezes. Contudo, há sérios debates que o CDS terá de fazer e urgentemente. O
primeiro deles é, sem dúvida, saber onde se posicionará o partido que um dia
quase foi «do táxi» a partir de agora. O CDS já não é apenas um pequeno partido
de oposição. As coligações de que fez parte, para o bem e para o mal,
conduziram-no ao outro lado, onde estão os tradicionais partidos de quadros e
poder do sistema. A redefinição do que pretende ser, do ponto de vista do
eleitorado tradicional e do novo, será um ponto primordial nessa discussão. Por outro lado, este anúncio
de umas «férias provisórias» de Portas revela que o «animal político» sabe – ou
acha – que o Governo de António Costa tem sérias probabilidades de durar, ainda
que não sejam os quatro anos. É esse caminho de espinhos que Portas,
tristemente, não quer fazer, deixando para outros essa penosa responsabilidade. Foi assim
quando sofreu uma pesada derrota nas legislativas de 2005 (foi a quarta força
política não tendo indo além dos 7,3% nas urnas e muito longe dos dois dígitos) e
que deram, com José Sócrates, a primeira maioria absoluta da história do PS.
Parece ser assim agora, dez anos depois, quando o poder já não é desígnio. Cá
estaremos para ver onde o futuro levará o CDS, e se com ou sem PP (a sigla
querida de Paulo Portas). Mas apostamos em que Portas também terá dito (ou pensado): «não tenham medo, vou só ali e já volto».
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