As desastrosas causas fraturantes de Catarina.
É desastrosa a forma
como o Bloco de Esquerda se tem posicionado no caminho que decidiu fazer ao
lado do poder. Esta semana é disto que vos quero falar. O Bloco, que aceitou a
par do PCP, apoiar no Parlamento, um Governo do Partido Socialista, está a aprender
a lidar com esse novo estatuto. Algo novo e, até agora, bem diferente da zona de
ocupação de longa data a fazer oposição cerrada. Se por um lado é importante
que os pequenos partidos percebam a responsabilidade das suas ações quando
estão no poder ou perto dele, não menos importante é que o façam sem disparates
pelo meio. Na verdade Catarina Martins não está a lidar bem com essa posição,
nomeadamente ao nível da comunicação. Se o famigerado cartaz de Jesus Cristo a
quem o Bloco decidiu dar dois pais, já tivera sido um tiro no pé, a proposta
recente de mudar a designação do cartão de cidadão porque o mesmo não defende a
igualdade de género, só veio piorar ainda mais a desastrosa escolha bloquista
em matéria de temas mediáticos. Será que entre tanta causa fraturante, que o
Bloco tanto gosta de eleger, não há nada mais urgente? Será que as
desigualdades sociais, profissionais e económicas não são tema mais premente?
Será que os nossos velhos, as nossas crianças e os dois milhões de portugueses
abaixo do limiar da pobreza não merecem causa maior que uma mera designação num
documento? O radicalismo e a essência bloquistas voltam a estar à tona no
caminho sinuoso que o partido faz ao lado do poder. Veremos se o eleitor
tradicional do Bloco – jovem e urbano – irá na cantiga redundante e sem dó de
um Bloco que ao mesmo tempo se acha dono e senhor de propor tudo e nada. Nós
por cá achamos que não. E António Costa sabe que, mais cedo ou mais tarde, terá
de se impor ante tamanho disparate. Veremos até onde a paciência do
primeiro-ministro irá. A menos que valha tudo para segurar o Governo e manter a
Troika de Esquerda formada no Parlamento português.
*Crónica de 18 de abril de 2016, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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