Jobs for the boys: o cancro da administração pública nacional.
É um clássico
sempre que a cor política no poder muda, assistirmos todos às danças de
cadeiras nas cúpulas da administração pública. Quem por
cá anda atento percebe que com o Governo de António Costa não houve exceção que
alterasse a regra. Do
Ambiente às Finanças, do Emprego à Segurança Social, passando pela Saúde,
Agricultura e Educação, quem acompanha a atualidade informativa do país sabe
que os «jobs for the boys» aí estão, em força e com a celeridade de sempre. Acontece
com António Costa, como aconteceu com Pedro Passos Coelho, José Sócrates, Durão
Barroso, António Guterres e Cavaco Silva anteriormente. É um conceito instaurado nas capelinhas
partidárias e que, por mais que os líderes digam que não, é certo e sabido que
a tentação é maior do que a vontade. Em 2014 recordo-me de uma tese de doutoramento
da Universidade de Aveiro que analisou 11 mil nomeações em 15 anos e concluiu
que a maioria serviu para recompensar lealdades partidárias.Para este cancro que mina a evolução de um país contribui em muito a
necessidade que existe nos partidos de poder tradicionais – como o são PS e PSD
– de recompensar os militantes leais por serviços prestados anteriormente em
nome da causa partidária.
Falamos, pois de uma realidade, difícil de ultrapassar e que nem mesmo
com o país resgatado, os partidos perceberam que é preciso olhar para o
coletivo e não para o ramo da árvore podre. Na verdade enquanto não ultrapassarmos este estado de coisas andaremos
sempre para trás, premiando a mediocridade em prol da competência. E, nesta matéria, em que António Costa podia, de facto, dar um sinal à
classe política e à sociedade civil, viu-se mais uma vez que ainda não saímos
da geração de políticos que coloca os seus agentes à frente do povo. E também aqui, PCP e Bloco de Esquerda, sempre tão ávidos de críticas
aos jobs for the boys, se uniram num silêncio pecador. Um dia perceberemos todos que a consequência maior da dança de cadeiras
já habitual por cá nos conduziu a atrasos históricos e difíceis de recuperar.
*Crónica de 11 de julho de 2016, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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