Na culpa dos números a responsabilidade morre (sempre) solteira.
Sempre
que o poder alterna entre PS e PSD é já um clássico assistirmos a troca de
acusações mútuas entre os seus dirigentes. O legado anterior nunca é assumido por quem governa. A culpa dos números
é sempre de quem antes pelo poleiro passou. Na guerra instalada cá dentro e em Bruxelas sobre eventuais sanções a Portugal por défice excessivo, é raro
vermos uma figura responsável a assumir as suas responsabilidades. Se à
esquerda a ordem é para combater a Comissão Europeia e a austeridade, à direita
o discurso passa por defender as políticas implementadas durante os quatro anos
passados. Se
Passos Coelho foi um comandante exímio das ordens da Troika, António Costa quer
mostrar ser o contrário e ficar para a História como o primeiro-ministro que reverteu
quase tudo o que foi feito. Sabemos
bem que o bom senso estará provavelmente no meio destas posições extremadas.
Sabemos também que os erros nas políticas são transversais a PSD e a PS. Mas
uma coisa é certa. A política de reversões encetada pelo atual Governo irá, sem
margem para dúvidas, ter consequências não só no défice como nas contas
públicas. E se nalguns casos, as reversões se aceitam, noutros, sabemos bem o
custo que terão para o erário público. Se
António Costa for coerente com o seu discurso europeísta sabe que tem de
cumprir as regras e sabe também que o impacto das suas reversões eleitoralistas
terão consequências. E graves. O seu alinhado ministro das Finanças já descolou
no discurso e, ao contrário do Primeiro-Ministro, mostra-se já preocupado com a
execução orçamental deste ano. Seja
como for, há sinais que aí estão: as exportações desaceleraram, o investimento
estrangeiro em Portugal continua a cair, o consumo interno tende reduzir e a
confiança na nossa economia treme. A
Europa e a Alemanha há meses que o perceberam e ao contrário do que muitos
pensam, não são exageradas as declarações do ministro das Finanças da Alemanha
sobre a necessidade de um novo resgate a Portugal. Veremos
até quando António Costa e o próprio Presidente da República continuarão em
festas e festins e em negação em relação ao futuro. Uma
coisa é certa: se é necessário reverter algumas medidas que nos tornaram mais
pobres, também é verdade que fazer tudo de uma só vez nos pode conduzir, de
novo, ao abismo. E o povo, que tanto sofreu na pele os erros da Troika e do
Governo de Passos Coelho, não merece, novamente passar pelo mesmo. E isso é que
é assustador.
*Crónica de 4 de julho de 2016, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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