A honra dos Homens de Estado.
Rocha Andrade |
Num agosto escaldante em que a silly já não é o que era, o
país ficou a saber que ainda há homens inexperientes que nos governam. O caso dos três secretários de Estado que viajaram, a
convite da Galp, para assistir a jogos do Europeu de Futebol em França foi a
grande parangona da semana. Na verdade, sabemos todos que não é a tentativa de corrupção
que está em causa, já que jornalistas, políticos e gestores deste país sabem
que é comum este género de convites. Na verdade, e na maioria das vezes, este género de cortesia
serve para aprofundar relacionamentos entre as partes e relações de confiança
profissional. Partindo daqui, há o lado negro do caso. No exercício de
cargos públicos, aceitar este tipo de prebendas revela tudo menos sentido de
Estado. Por mais que não venha mal ao mundo, vem ao mundo o mal do boato, da
imagem e da famigerada dependência do poder político ante o económico. Tudo isto se adensa mais quando um dos secretários de
Estado, dos Assuntos Fiscais, começa a semana a aumentar o IMI suportando-se de
um disparate: a exposição solar e a vista da casa. Esse homem chama-se Rocha
Andrade e não pode ganhar a confiança dos cidadãos quando, ao mesmo tempo que
veste a pele de cobrador de impostos, aceita convites de uma empresa que tem um
litígio com o Estado português, precisamente porque não quer pagar as
contribuições fiscais que deve. O caso, que cai em saco roto neste agosto em que o país está
a banhos, resume-se apenas a umas declarações avulsas do ministro Augusto
Santos Silva que, por estes dias, substitui o primeiro-ministro. Devemos todos preocupar-nos com a ausência de homens e
mulheres de caráter, que não vergam, que sabem dizer não, enfim, que resistem
em nome do cargo que aceitaram ocupar. E este é um dos maiores cancros que, da esquerda à direita,
teima em crescer, sem dó nem piedade. Um país de homens assim, que mancham a sua honra e o seu
sentido de Estado por umas meras viagens ali ao centro da Europa, diz tudo. Que sirva realmente de lição. Seja como for, temo muito que
outros, no futuro, se esqueçam rapidamente do assunto e dos erros dos outros.
É por estas e por outras que a confiança entre eleitos e
eleitores está ferida de morte. Esperemos que os antídotos nascidos em cada
Governo se revelem, pelo menos, eficazes.
*Crónica de 8 de agosto de 2016, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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