CP: a decadência de um serviço miserável
Já não é a primeira vez que falo nesta crónica do estado dos
comboios portugueses.
Mas é incontornável a situação de terceiro mundo a que
chegamos.
No espaço de uma semana, em pleno início de agosto,
executam-se supressão de comboios, incumprimento de horários, avarias
constantes em plena hora de ponta, pelo menos na cidade de Lisboa, e a última é
a maior anedota que já vi.
Este domingo a CP decidiu suspender a venda de bilhetes de
comboios Alfa pendular para diminuir o calor a bordo. E pergunta o ouvinte
porquê. Diz a CP que o ar condicionado daqueles comboios não arrefece quando a
temperatura está acima dos 42 graus, situação que ocorreu na maioria das
cidades que compõem a linha do Norte. Garanto que não foi apenas em comboios
alfa pendular, os intercidades, nas ligações Covilhã-Lisboa deixaram muito a
desejar este fim de semana de altas temperaturas em Portugal.
Pergunto eu: até quando vamos continuar a ter uma ferrovia
nacional fantasma? Até quando vamos pagar serviços para não os ter? Até quando
teremos um meio de transporte ferroviário digno de terceiro mundo?
Portugal avançou, nos últimos 20 anos, em tantas áreas. Mas
no que toca aos transportes, quem neles anda todos os dias, conhece na pele o
quão bom o serviço é.
Enquanto tratarmos assim os utentes estamos a prestar um mau
serviço. E o Estado é o primeiro a quem a primeira pedra deve ser atirada.
Longas décadas depois de tantos governos, nenhum deles
modernizou a ferrovia portuguesa. E pior: contribui, e muito, para a sua
decadência.
*Crónica de 6 de agosto, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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