Covid-19: a escolha da mensagem (e do mensageiro) também é o símbolo do que queremos

António Sarmento, diretor do serviço de Infecciologia do S. João, no Porto. Foto: Paulo Pimenta/Público. 

27 de dezembro é um marco para muitos países europeus, que começaram este domingo os Planos Nacionais de Vacinação contra a Covid-19. Veja o Português aqui.

É apenas mais um passo, importantíssimo, para a recuperação das nossas vidas. Com muitos pontos de interrogação que ainda existem, é certo, mas não deixa de ser o 'passo'.

Portugal arrancou hoje também. Como já se esperava numa ação mediática programada. A diferença entre a mensagem dos diferentes países e dos seus governos é notória. Ainda que possa ser legítima, há alguns que fazem a diferença na mensagem que querem passar, em primeiro lugar, à opinião pública e aos seus cidadãos.

Escolho Portugal e Espanha, por serem países vizinhos, com uma longa tradição histórica de relacionamento entre si. Em Espanha, a imagem que quiseram passar no simbolismo do arranque da campanha foi a da importância dos seus idosos, dos que vivem em lares, dos mais frágeis. 
Araceli Hidalgo, a primeira espanhola, de 96 anos, a receber a vacina, no Lar Los Olmos, Guadalajara.
 Foto: Pepe Zamora (Pool).

Assim, Araceli Rosario Hidalgo, de 96 anos, residente no lar Los Olmos, em Guadalajara, foi a primeira pessoa a ser vacinada, seguida, obviamente de uma enfermeira da mesma instituição. Mas a mensagem foi clara e inequívoca. Em Portugal, não houve uma só escolha na primeira linha da vacinação no campo da Terceira Idade, ficamos, claro está, legitimamente, pelos profissionais de saúde, com António Sarmento, diretor do serviço de Infecciologia do S. João, no Porto, a ser o primeiro português a ser vacinado. A segunda imagem que me dão do meu país é, pois, do Curry Cabral, com mais um médico a levar a vacina. 

Pergunto eu: não teria sido também justo englobar neste dia simbólico um idoso, tendo em conta que os lares e instituições similares estão englobados na primeira fase da vacinação? Talvez não, mas o simbolismo do momento também diz muito daquilo que somos. 

Que ninguém - mesmo ninguém - fique para trás. E que o meu país seja tão exímio em vacinar a população toda que queira tomar a vacina, como foi no arranque deste momento tão importante para a sociedade portuguesa. Assim o espero. 

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