Portugalidade: Freixo de Espada à Cinta, um oásis no Douro Internacional


Situada na região demarcada do Douro, Freixo de Espada à Cinta adquire uma beleza especial na primavera quando as amendoeiras estão em flor, podendo a paisagem ser admirada em todo o seu esplendor do alto do Penedo Durão, o mais belo e imponente miradouro do concelho, de onde se vislumbra uma área que se estende para lá da fronteira espanhola.

Hoje, partimos à descoberta de uma terra carregada de Portugalidade e que, parece-nos tão longe e, ao mesmo tempo, tão perto. 

Vista do Castelo.
Freixo de Espada à Cinta está inserida na província de Trás-os-Montes e Alto Douro, distrito de Bragança. 

A origem da vila perde-se nas brumas dos tempos estando a sua fundação e toponímia encobertas pela neblina que sempre envolvem as lendas. Todavia vários historiadores afirmam que os Narbassos, povo ibérico pré-romano mencionado por Ptolomeu, habitavam toda esta zona da Península, pressupondo-se assim a existência desta povoação anterior à fundação do Reino de Portugal. 

Ao longo dos séculos muitos acontecimentos históricos ocorreram neste concelho como por exemplo, a guerra que D. Afonso II sustentou com suas irmãs protegidas de Afonso IX de Leão e como consequência foi esta terra tomada e saqueada em 1211 pelas forças espanholas. Mais tarde, em 1236 no reinado de D. Sancho II, veio pôr-lhe cerco o Infante D. Afonso filho de Fernando III de Castela, mas desta vez os habitantes de Freixo defenderam-se com grande valentia conseguindo romper o cerco vendo-se os castelhanos obrigados a levantar o cerco e bater em retirada. Como recompensa de tal feito o monarca português concedeu-lhe a categoria de Vila em 1240. 

É por isso que este é um concelho repleto de história, com as suas ruas cheias de portadas e janelas manuelinas, as antigas muralhas e torre ainda medievais, mas também valem uma visita à Igreja local. São muitos os pretextos para a visitar, quando toda a pandemia terminar. 

Deixamos algumas sugestões. 

Castelo 

O castelo de Freixo de Espada à Cinta é uma das mais antigas fortalezas transmontanas, estando documentada desde praticamente o século XII e antecedendo, por isso, o fenómeno de vilas novas criadas por D. Afonso III e D. Dinis. A referência mais antiga data de 1152 ou 1155-1157, anos em que D. Afonso Henriques passou carta de foral à localidade.

Castelo. 

Exemplar de arquitetura militar em estilo gótico, de enquadramento urbano, na cota de 466 metros acima do nível do mar. Apresenta semelhanças com a dos de Alva, Mós e Urrós.

É constituído por castelejo de planta ovalada e barbacã, de que só restam alguns trechos e uma torre coroada por mata-cães e rematada por merlões biselados, outrora integrada no circuito muralhado do castelejo. O seu primitivo espaço intra-muros é ocupado desde 1836 pelo cemitério municipal, reaproveitando as fundações da muralha dionisina, arruinada.

A torre remanescente, em plano elevado, está integrada no centro histórico da povoação, a norte da Igreja Matriz, e um pouco mais distanciada, a oeste, da Igreja da Misericórdia. Alguns autores sustentam (indevidamente) ter sido esta a torre de menagem atribuindo-a uns ao reinado de D. Dinis, outros ao de D. Fernando. Os moradores denominam-na simplesmente como Torre do Galo ou Torre do Relógio. De planta heptagonal irregular (com faces desiguais), em "opus vittatum", ergue-se a cerca de 25 metros de altura, com faces de diferentes larguras, variando entre os 5 e os 8 metros. É acedida por uma porta em arco quebrado na face nordeste, em plano elevado, descentrada, antecedida por escada de dois lanços opostos. O seu interior é dividido em três pavimentos, com abóbadas em arcaria, acedidos por escada, formando caracol no cunhal nordeste, iluminados por estreitas seteiras nos muros.

No alto, destaca-se um balcão corrido sustentado por cachorrada e chão perfurado (“machicoulis”). O conjunto culmina com uma torre sineira quadrangular, com cobertura em forma de agulha, tendo nos cunhais pequenas pirâmides boleadas. 

Museu da Seda e do Território 

Herdeiro do antigo Museu do Território e da Memória, então localizado na antiga Casa da Cadeia, o atual Museu da Seda e do Território (inaugurado a 18 de agosto de 2015) alberga todo o acervo etnográfico, arqueológico e geológico do antigo espaço museológico, a que se lhe junta um espólio, recente, associado à seda, imagem icónica não apenas do atual Museu, localizado no Largo do Outeiro, em pleno Centro Histórico, mas também de Freixo de Espada à Cinta.

Único território de toda a Península Ibérica onde ainda se labora a seda de forma 100% artesanal, o Museu da Seda responde com esmero a essa tradição, bem visível na exclusividade do piso superior.

Neste espaço físico, para além dos recursos multimédia que explicam todo o processo da seda (desde a plantação das amoreiras até ao produto final), evidencia-se a sala de exposição e venda de peças concebidas em processo artesanal pelas artesãs que aí trabalham em típicos teares. É deste processo que saem peças variadas, designadamente echarpes femininas, carteiras, gravatas e outros acessórios. 

Igreja Matriz

A igreja no seu conjunto tem uma unidade de estilo que representa uma construção sem grandes interrupções. 

É uma obra régia, como indicam as armas e os emblemas de D. Manuel (escudo e esferas armilares na abóbada da capela-mor), sendo só por si uma razão para pensar que a sua traça seja de um bom arquiteto e mestre das obras régias, isto é, Boitaca. 

Igreja Matriz. 
Por outro lado, planta e alçado sugerem de tal maneira os Jerónimos que dir-se-ia estarmos perante este monumento simplificado. 

O traçado relativamente simples das abóbadas e sobretudo dos portais, tanto da fachada como laterais, em especial o do lado Sul, com as colunas torças e a decoração túrgida, levam ainda a pensar nesse arquiteto do rei Venturoso. Não nos esqueçamos que ele trabalhou na Guarda, não longe daqui, na primeira década do séc. XVI. 

Janelas manuelinas 

Freixo de Espada à Cinta é considerada como a “vila com maior número de casas manuelinas existentes no País”.

Exemplo de janela manuelina na vila. 
Existem ainda bem conservadas e espalhadas pelas ruas mais antigas casas manuelinas com os portais de aduelas e as janelas quadradas com decoração em volta ou só na parte superior (esferas, folhagens, troncos entrelaçados, cordames, conchas, etc...).

Pelourinho

De arquitetura jurisdicional manuelina, assenta no meio de três degraus simétricos e tem na parte inferior da coluna uma cinta móvel de ferro podendo assim colocar-se à altura de qualquer pessoa.

No capitel tem os brasões manuelinos e da vila, cabeças, caras e bustos um pouco gastos pela ação do tempo.

Pelourinho. 
Do meio saem cruzados quatro braços de ferro curvos nas pontas e terminados em cabeças de serpente de cujos olhos pendem argolas.

O remate piramidal é sem esfera. É considerado o mais belo do distrito de Bragança.

Praia Fluvial da Congida

Situada nos arredores de Freixo de Espada à Cinta, a praia fluvial da Congida torna-se num dos locais mais emblemáticos do concelho.

Congida. 
Rodeada pelo Douro Internacional e escoltada por uma paisagem agrícola, onde se exprimem com particular evidência os laranjais, a Congida é um espaço privilegiado que convida o visitante ao ócio e ao lazer.

Miradouro do Penedo Durão

Decano dos Miradouros. Torna-se no mais emblemático de todo o percurso dos miradouros. Acostado ao Douro Internacional, as paredes rochosas que o sustentam deslizam, a pique, a uma altitude de 550 metros, pela paisagem pautada pela diversidade. 

Penedo Durão.
A agressividade do solo concorre com terrenos férteis que albergam vinhas e olivais. 

A fauna apresenta-se neste espaço como o Grifo, a Águia Real e outras aves de rapina. Ao estar no Penedo Durão vai ver porque razão este é o único lugar onde se veem os Abutres pelas costas.

Assumadouro

Localizado onde a natureza se apresenta no seu estado mais selvagem, o Assumadouro espreita para o Douro, que se contorce e segue o seu curso pisado pelos barcos que atracam no cais de Barca d’Alva (perfeitamente visível do Miradouro).


Miradouro do Assumadouro.
Num autêntico cenário cinematográfico, aliam-se aqui três elementos: a água, a terra, povoada pela flora e fauna, e o céu, onde predominam espécies que encontram poiso nestas Terras do Douro Internacional. 

Miradouro do Carrascalinho

Localizado onde o Douro Internacional se estreita, em zona extremamente escarpada, a permitir pequenas quedas de água que deslizam pelo relevo inóspito, o Carrascalinho torna-se num lugar emblemático ao permitir a visualização da maior mancha de lodões de toda a Europa.

A fauna oferece-nos, para admirável contemplação, o vôo da Águia Bonelli, Águia Real, Águia Cabrita. 

Ponte do Diabo 

Vestígios de uma ponte em xisto, que provavelmente asseguraria a travessia da Ribeira do Mosteiro. 

Fica precisamente a meia distância entre o povoado de S. Paulo e a confluência da ribeira com o rio Douro. 

Apenas nos restam os arranques da ponte, um de cada lado, tendo o resto da ponte desabado devido a uma enxurrada, segundo se conseguiu apurar. 

Pela estrutura que nos resta seria muito semelhante a uma outra que ainda hoje existe a cerca de 1,5km a montante, ou seja, o tabuleiro seria de um só arco e sem qualquer espécie de parapeito ou protecção.

Passeios de barco 

Entre a praia fluvial da Congida e La Code (Mieza), percorremos uma viagem abraçada por dois Parques naturais: Douro Internacional e Las Arribes del Duero.

Os olhos avistam um território onde o homem se assumiu como construtor da paisagem, cultivando amendoais, olivais, pomares e vinhas. 

As arribas oferecem-nos um “excesso” de natureza, onde apetece ficar horas sem fim, onde é tudo contemplativo, perante o enigmático Pinheiro Solitário, bosques de Zimbro, Carrascos e Lodões, que espreitam as margens do rio. 

Ao longo do Douro, observamos uma sensível comunidade de aves que escolheu este lugar para o seu habitat: a Cegonha Negra, o Grifo, a Águia Real, a Águia de Bonneli, o Milhafre e o Abutre do Egito. 

Há magia nestas paragens! O visitante encontra aqui um Mundo à parte, um mundo que se manteve esquecido e, por esse motivo, intacto. Imperdível!

Gastronomia 

O concelho de Freixo de Espada à Cinta oferece uma gastronomia variada e rica com produtos de grande qualidade, tais como, azeitona, azeite, vinho, laranja, amêndoa, mel, queijo e o fumeiro que são utilizados na confecção de saborosos pratos.

Para as entradas ou para o lanche sugere-se a bola de azeite com queijo de cabra fresco, bem como um pedaço de empada de carne, tradicionalmente confeccionada por altura da Páscoa, ou então a bola de sardinhas.

Sendo um concelho tradicionalmente agrícola, as sopas faziam parte da dieta alimentar da população. Destacam-se as sopas de alho, as sopas de tomate, as sopas de esparragos, as sopas de grão, o caldo de couves, o caldo de cebola, a sopa de abóbora, a sopa de feijão encarnado e a sopa de peixe do rio. 

Para acompanhar qualquer prato, nada melhor que os grelos guisados, as vagens de fava ou os espigos cozidos. 

Destacam-se também diversas saladas, que nos meses de primavera e verão fazem as delícias de qualquer um: a salada de agriões com laranja, a salada de laranjas, a salada de azedas, a salada de pepino e a salada de pimentos assados, todas bem regadas com vinagre e azeite virgem produzido nesta terra. 

A carne de caça e a pesca do rio são outros regalos: dado estas paragens serem propícias para as artes venatórias, é de destacar o arroz de lebre com couves ou a lebrada com feijão branco, o coelho bravo guisado, a perdiz estufada com presunto, o guisado de javali ou os tordos assados na brasa com uma pitadinha de sal, bem como o peixe frito e o peixe de escabeche (carpas ou bogas). 

A torta de esparragos bravos, a torta de miolo de pão ou a tortilha de grelos de cebola são outras das iguarias da região. 

Porém, quem ainda não provou as alheiras grelhadas com grelos, a chouriça e o salpicão, acompanhados com a azeitona negrinha, o cozido à portuguesa ou a feijoada transmontana feitas com o fumeiro local (chouriça de ossos e bochas), ou então o cabrito assado na brasa com batatinhas novas, e, na altura da matança do porco, a sarrabolhada com batatas cozidas. Quem é bom garfo, dificilmente resistirá!

Para a sobremesa, nada melhor que os milhos e as bolinhas (tradicionalmente comidos no Natal), os bolos dormidos (doce da Páscoa), os arrepelados, os beijinhos de preta e as cerejinhas, os matrafões, os canelões e uma grande variedade de bolos de amêndoa que quando juntos a um cálice de vinho fino são a mais soberba das guloseimas.

Mais informações, dicas de visitas e culturais, aqui

Pretextos para visitar Freixo de Espada à Cinta não faltam. O turismo, também o transmontano, é um dos setores mais afetados pela pandemia que o país vive. Quando tudo isto acabar, esta vila transmontana espera por si. Visite-a e ajude Trás-os-Montes a recuperar desta tragédia. Porque a nossa Portugalidade é incomensurável e aguarda lá, à nossa espera!


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BI – Freixo de Espada à Cinta 

População: 3780 habitantes

Área: 244.00 km2

Presidente: Maria do Céu Quintas

Freguesias: 4

Contactos:

Email: geral@cm-fec.pt

Site: www.cm-freixoespadacinta.pt

Telefone:  279 658 160

Fontes e Crédito das Fotos: Câmara de Freixo de Espada à Cinta e Turismo de Freixo de Espada à Cinta. 

Comentários

Nuno disse…
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