Scorpions: uma vida contada numa noite


Texto e Fotos: Ana Clara

Há noites que simbolizam toda uma vida. Há dias em que nos espera aquilo com que não contamos. Há momentos transformadores, que estão destinados a serem especiais. Esses, são mesmo os melhores, que se entranham, que nos esventram, que estão condenados a começar e a não terem fim.

Foi tudo isto (e tanto mais) que se viveu ontem à noite, 18 de julho, na Altice Arena, em Lisboa. 

Falar de Scorpions torna-se cada vez mais difícil para mim. Redundante. Porque tudo quanto penso, já o escrevi neste blogue, na última década. Incluindo o seu percurso nos últimos anos (e bem lá atrás, até mesmo na década de ouro em que nasci). 

Não o vou fazer desta vez. Porque desta vez, a capacidade de me surpreenderem esgotou o impensável. Com 50 anos de carreira, com fragilidades que o corpo demonstra, com cordas vocais que já não são as mesmas dos anos 70, 80 e 90, tem sido incrível a reinvenção de uma banda que nem uma pandemia silenciou. 

Há-de chegar o dia em que a coisa correrá mal (dirão muitos por aí…sabem lá eles…), se até lá, não decidirem abandonar os palcos. Mas esse momento ainda não chegou. Prova disso é o sangue, suor e lágrimas que se viu em palco na noite passada em Lisboa e que se tem visto na tour de promoção do álbum ‘filho da pandemia Covid’, intitulado 'Rock Believer'. E somos tantos Rock Believers…porque acreditar tem sido a bandeira, a deles e a minha! 

Além de a voz de Klaus se manter digna, há um investimento de produção naquilo que é a identidade da banda: a começar no cenário pensado ao pormenor para Big City Nights até ao novo Wind of Change, com letra alterada e dedicada inteiramente à Ucrânia e ao sofrimento deste povo martirizado, imagine-se, mais de 30 anos depois da queda do Muro de Berlim. 

Gostem ou não, os Scorpions atingiram um estatuto que muitos nunca alcançaram nem o conseguirão. A forma como se mantiveram unidos (Klaus Meine, Matthias Jabs e Rudolf Schenker) é bem capaz de ser o segredo disto tudo e que nos vão dando, quando podiam bem já estar sossegados. Foi o meu 19.º concerto. Sou, por propriedade, uma das suas maiores fãs há mais de 20 anos. Sei exatamente do que falo, sobretudo quando analiso bandas nascidas e feitas gente nos anos 80. 

O mundo pode ter mudado. As prioridades também. Mas se há registo que a História já escreveu é o de uns Scorpions intactos no ADN ao fim de mais de 50 anos. E isso, meus caros, não é para todos. É para os resistentes e os capazes de serem eles próprios, inovando, segurando multidões, sem quebrarem. 

O dia final temo-o há muito. Mas agora, ao contrário do que sentia antes, ele pode chegar. Há uma natural tranquilidade colocada em cada subida ao palco que nunca cessará com o fechar do pano. 

Obrigada, rapazes (Thank you, guys!). Tem sido uma viagem incrível!








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