Portugal arde e com ele vem um rasto negro de destruição

Foto: Ana Clara


Gostava de não voltar ao assunto. Porque, em todos os anos da minha vida, nunca vivi numa realidade diferente. Década após década, Portugal arde. E com ele morrem muitos de nós, uns para sempre, outros ficam num sofrimento atroz, a paisagem precisa de novo de se regenerar e, mais uma vez, volta tudo ao mesmo. Só na negra semana passada arderam mais de 120 mil hectares de floresta em Portugal, 182 vítimas registadas, onde se incluem cinco mortos.

Mais uma vez voltamos ao diagnóstico. Que está feito. Há anos. Um território desordenado, uma paisagem desprotegida, um Interior desertificado sem uma economia pujante, ausência de cadastro florestal e uma gritante falha crónica na gestão florestal profissional. Tudo isto continua a falhar-nos desde sempre. Com um poder político incompetente, que, a cada legislatura, faz saltitar as florestas ora para a pasta da Agricultura ora para a do Ambiente. E tudo, sem uma estratégia de longo prazo para proteger as pessoas e o território.

Apendemos com 2017? Aprendemos, hoje prevenimos melhor, sem grande sucesso na hora do combate, ainda que com mais meios, mesmo que eles continuem a faltar e a falhar na hora mais negra. A verdade é só uma: não há proteção civil nem bombeiros que nos valham, enquanto não começarmos, de uma vez por todas, a ser inteligentes na gestão sustentável das pessoas e do terreno. Junte-se a incerteza tenebrosa das alterações climáticas, que vieram para ficar, e percebemos bem por que razão arde Portugal.

Nota: podcast/opinião na Antena Livre esta segunda-feira, 23 de Setembro. OUVIR

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