Dia Mundial da Liberdade de Imprensa: carta de gratidão a um Mestre e Amigo. A ti, querido João!
Hoje celebra-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. E se são os que já partiram que, todos os dias, me guiam no caminho, representando saudade, perda e memória que nunca me abandona, também é importante lembrar hoje os que ainda tenho o privilégio de ter na minha vida.
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Foto: Facebook João Naia |
Por isso, neste dia, quero escrever esta carta, de gratidão e amizade, que já conta 20 anos. Dedicada ao João Naia, amigo para a vida, antigo chefe de redação, camarada de todas as horas, do bater de caracteres loucos, em paralelo numa amizade de duas décadas que se fez rochedo em todas as dimensões daquilo que somos enquanto pessoas.
O João é um ser humano extraordinário. Parecem chavões, palavras gastas, mas que não deixam de ser a mais pura das verdades. Passou-lhe pelas "mãos" dezenas e dezenas de jornalistas. Formou-nos a todos num mercado de trabalho exigente mas sempre com a maior das liberdades e autonomia. O João tem uma das personalidades mais fortes que já conheci. Duro nos momentos certos, implacável com o rigor, intransigente ante as adversidades (e foram tantas as que vivemos), fiel no caráter. Ao mesmo tempo, sensível com as redações, cuidador dos seus jornalistas, dando o corpo às balas por todos eles, feito de uma massa profissional que, desculpem, mas já pouco resta na espuma dos dias.
Foram muitas as histórias que vivemos ao longo de duas décadas, na mesma redação, mantendo o legado inigualável de uma força da natureza chamada Vera Lagoa. Com ele sedimentei a jornalista que sou, sobretudo nos meandros e corredores da política, desde as sedes partidárias à Assembleia da República, terminando em congressos partidários que acabavam noite dentro e a longas noites de fecho de eleições em que quase parecia que íamos morrer quando o jornal seguia para a gráfica.
O João era (e é) furacão, intensidade, fervor, mas é também meiguice, doce e o melhor amigo que a vida me podia dar. Desafiar tudo aquilo que é foi para mim o mais natural na vida. Ainda hoje o é. Quando todos o temiam, eu qual miúda com sangue na guelra, sem medo do futuro, tinha um íman que me levava sempre a pisar o risco, de desafio e confronto, numa linha de honestidade e coragem (até) que se desenrolava. Não tenho dúvidas de que foram esses momentos tensos, profissionais, que originaram esta amizade, que dura até hoje e, sei, será para sempre.
Por tudo isto, e tanto mais, hoje, neste dia em que celebramos a liberdade de imprensa, não há maior justiça que esta carta de gratidão a um dos melhores jornalistas deste País e a um dos homens mais nobres que conheço. Obrigada, Chefinho, por todas as horas, dias, meses e anos! Sem ti, tinha sido tudo mais negro. E graças a ti sou também quem sou. Como nos disse, vezes sem conta, o saudoso Marques Bessa, "somos quem somos" e isso é o melhor legado que deixamos nesta Terra. Um beijinho. E até já.
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