Legislativas 2025: um novo País Político pintado de direita
As legislativas deste domingo trouxeram um mapa eleitoral novo, com a tendência de voto à direita, em linha com o que está a ocorrer em vários países europeus. A esquerda tombou de forma inacreditável, exceção feita ao Livre. O que virá a seguir, não sabemos. Mas sabemos que o sistema treme. Eis o resumo da noite eleitoral de ontem.
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Crédito da Foto: PS |
Chega, a extrema direita soma e abana o sistema
Não foi o episódio de saúde de André Ventura que originou o resultado estrondoso do Chega na noite passada. Foi sim a forma como André Ventura chega às massas e de forma eficaz. Num país onde as pessoas estão cansadas dos velhos chavões do Centrão, Ventura construiu a fórmula mágica de captar votos. E votos em bastiões inimagináveis: Algarve, Alentejo, Norte. Autênticos varrimentos, um pouco de norte a sul. Combater politicamente o Chega começa a ser difícil, porque enquanto o campo de batalha estiver minado pela resistência incapaz, o terreno continua a ser enorme e tanto que ainda têm para desbravar. Vai ser o osso mais duro de roer para Luís Montenegro. Veremos quando e como será o primeiro embate. Ao contrário do que a esquerda pensa, não, não é dramático (ainda). A democracia aguenta. Mas é um abanão. E se os outros não acordarem rapidamente, hoje já será tarde. O PS que o diga.
Onde pára o PS?
Mário Soares, onde quer que esteja, estará, sem dúvida, irado com o que hoje aconteceu a um dos maiores partidos portugueses. Para mim, era previsível que nestas eleições o panorama se mantivesse igual. Pedro Nuno Santos perdeu pelas mesmas razões que elenca no discurso desta noite: lavra na idoneidade de Luís Montenegro e não nas causas e responsabilidades que lhe cabem. É precisamente por isso que este PS não descola, de novo, no campeonato dos grandes. A sua demissão era a única saída possível num partido que precisa juntar os cacos. Porta aberta para uma sucessão que muitos no PS desejavam. Há pelo menos um homem que será o primeiro a entregar a candidatura rumo às eleições internas: Fernando Medina. Chegará? Duvidamos. Mas que venham as facas e as noites longas no Largo do Rato.
AD, uma maioria (pouco) maior
Foi para eleições correndo todos os riscos. Empurrado por um caso pessoal que lhe manchou a reputação. A montanha, afinal, pariu um rato. Luís Montenegro confronta-se de novo com o problema da ingovernabilidade. Com uma diferença: uma legitimidade democrática reforçada que lhe dá tempo e margem de manobra para governar. Não precisou de fazer uma grande campanha para renovar a vitória. Resta saber o que vai fazer com ela e com quem vai conversar. Uma coisa é certa: o 'não é não' é a única certeza que sabemos irá acontecer.
A causa animal e verde de um PAN ligado à máquina
Inês Sousa Real foi eleita. Pode celebrar. Mas dificilmente, o caminho será mais longo que isto. O PAN tem espaço reduzido para crescer. Mas esse não é o principal obstáculo. O problema é o não comprometimento com nada. É o seu não-posicionamento ideológico, é a ausência de ideias e propostas que cheguem a todos. A causa animal e a luta anti-touradas configuram um espaço demasiado redutor para ousar crescimentos doidos. A sua representatividade, resumida a 1 deputado, confere-lhe precisamente o lugar justo que merece no sistema. Até ao dia em que a configuração democrática o extinga em definitivo. Por este andar, não vai faltar muito.
IL, os liberais mais novos que procuram espaço e tempo
Rui Rocha não é o líder que a IL precisa. Mas ganhou espaço onde PSD, CDS e Chega não souberam inovar. Vai continuar a crescer, numa nova forma de comunicar, de propor ideias e de oferecer soluções credíveis num espaço de direita, liberal, mas moderado. Aconteça o que acontecer, é opção para entendimentos. Resta saber se a força (que ainda não tem) chegará. Tem igualmente o condão de ter arrasado (em muitos segmentos nas bases partidárias) um outro partido que hoje ninguém sabe quanto vale: o CDS.
Livre, o partido contra-corrente à esquerda
Vem crescendo, paulatinamente, nos últimos anos. O grande mérito deve-se ao seu porta-voz, mas não só. O Livre percebeu aquilo que os outros ao seu lado, não quiseram entender. Uma esquerda aberta, moderna e que se pretende afirmar de forma natural e sem entrar em loucuras ou chavões sem sentido. Rui Tavares merece muito os resultados que hoje alcançou. Sem altivez, com seriedade e humildade. Posicionamentos que a esquerda que se acha dona de Abril, pelos vistos, esqueceu. É este o caminho certo, se quiserem aprender alguma coisa. Por cá, duvidamos muito, mas a lição do Livre está dada. E em várias aulas nos últimos anos.
Um histórico PCP que tombou (e não sabe)
O caminho para o desaparecimento de um partido histórico como o PCP já começou há muito tempo. O Mundo mudou há tanto, tanto tempo. Na Soeiro Pereira Gomes ainda parece que estamos nos anos 80. Quando a sua base maior desaparecer, pergunto-me onde estará a renovação geracional que tinha obrigação de manter de pé um partido que, à esquerda, continua a ser necessário ao sistema. Paulo Raimundo é apenas uma vítima de um legado pesado, de um tempo longo de construção democrática, que podia e devia ter trazido essa mudança e adaptação de um dos partidos mais aprisionados ao passado. Nem Bernardino Soares, em Beja, conseguiu salvar a honra de um convento em chamas há anos. O varrimento das foices e martelos está a chegar ao fim. Resta saber até quando conseguirá manter nos bancos do hemiciclo 3 resistentes deputados.
BE e o caminho para o abismo
A grande mossa que hoje se abre à esquerda, atinge em força o Bloco de Esquerda. A sua base eleitoral tradicional (urbano, jovem) foi hoje ferida de morte. Nem os pesos pesados de tempos idos (Luís Fazenda, Fernando Rosas e Francisco Louça) fizeram milagres, e era muito difícil que isso acontecesse. Só Mariana Mortágua não viu. Há, tal como no PCP, uma grande fenda aberta, que se adensa, que não é de hoje e tem sido cíclica nos últimos atos eleitorais. O abismo está próximo. Se há retorno? Nada é impossível mas o ponto a que chegaram, no contra-poder extremado, sem percepção absoluta dos tempos novos e, repito, dos anseios do eleitorado, não chega para controlar os danos. Nem com isso o PS pode contar.
Resultados finais, sem a votação dos eleitores residentes no estrangeiro:
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