20 anos sem A Capital: um caso sério de amor ao Jornalismo Português

Faz este mês 20 anos. Duas décadas passadas sobre o fim de um dos jornais históricos e marcantes que este País conheceu. 



O último diário vespertino português viu a luz do dia em fevereiro de 1968. Teve o seu último suspiro, com o silêncio das rotativas, a 30 de julho de 2005. Na Nota da Administração, na página 8 dessa derradeira edição, escrevia-se o que hoje continua, tristemente, atual: “…como é do conhecimento de todos, o mercado português - como, aliás, o mercado europeu onde este se insere - atravessa já há algum tempo uma conjuntura económica negativa. Em especial, o da imprensa tem, nos últimos anos, estado mergulhado numa crise significativa (…)”. 

Estávamos em 2005. Passaram 20 anos. Ironicamente, parece não se ter aprendido nada. O cenário do setor não só permanece o mesmo, como piorou. A ela devo muito. Ou talvez tudo. Foi naquela redação que, aos 22 anos, me fiz jornalista. Que ousei. Arrisquei. Que caí. E me levantei. Vezes sem conta. E que apressei a velocidade do sangue que me corria nas veias, sôfrego, de uma forma incrivelmente veloz. Mas também tremi. Errei. E tive de dar corda às pernas quando elas tremiam que nem varas verdes. 

Valeu tudo a pena, numa redação de gente incrível, com profissionalismo infinito e solidário como nunca vi. A sua última edição (como tantas outras), e a mais difícil de “parir”, pode ser consultada em formato digital na Hemeroteca de Lisboa. Nela está espelhada a dor dos que a fizeram pela última vez. Fomos os coveiros, mas também uns privilegiados por termos tido a sorte de trabalhar num lugar que teve, entre outros, diretores como Norberto Lopes, David Mourão Ferreira, Francisco Sousa Tavares, Helena Sanches Osório e, por último, mas o mais importante nessa casa (o que apostou em mim, aquele que nunca me deixou cair, que me desafiou em todas as linhas dos meus limites infinitos e que levei para a vida), Luís Osório, o meu eterno diretor. Nessa última edição, não posso esquecer, o trabalho a quatro mãos, com o meu querido camarada e amigo, Bruno Henriques da Silva, na secção de Política, em que, sob terríveis estados emocionais do momento, demos à estampa uma das entrevistas mais difíceis das nossas vidas, no caso, com o então presidente do CDS-PP, José Ribeiro e Castro, e que até hoje ficará também marcado nesta história.

É importante para que as gerações mais novas a conheçam, para poderem saber quão importante é a palavra memória e que tanta falta faz nas redações deste País e também na sociedade que somos todos nós. Quero que lhe conheçam a marca que deixou, não só naqueles anos quentes e Revolucionários, como depois, na consolidação da Democracia. É nestas páginas que ainda hoje se recupera a História de Portugal porque houve notícias que apenas e só aqui nasceram e (também) morreram. Neste mês de julho de 2025, aqui a relembro, porque temos todos, de alguma forma, ecos do passado que nunca se calarão. Que nos acompanham uma vida inteira. A Capital é um desses casos sérios de amor para uma vida inteira. E nunca sairá da vida dos que por ela passaram! 

Última edição aqui.

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