A «borreguinha» Manuela.
Sempre
elogiei a veia económica de Manuela Ferreira Leite. E sem rodeios, assumo-o, por razões
ideológicas. Repito, por razões ideológicas. Em 2009, enquanto José Sócrates
continuava a vender ilusões [e com elas venceu as eleições], a antiga líder do
PSD assumia-se como uma candidata que tinha tudo para perder: o discurso, a
raiz austera e a necessidade de sacrifícios levaram-na, como é óbvio, à
derrota. Contudo, parece que os
cidadãos e a própria Manuela perderam o juízo. Sem espanto porque sinceramente
acho que muita gente comum à minha volta perdeu o juízo. Adiante. Uns (cidadãos
e opinião pública) já não se lembram que votaram num político puro [que ganhou
eleições com demagogia e a vender, entre outras coisas, grandes projectos
megalómanos de investimento público]. Já a senhora parece ter esquecido os
números do défice, da dívida e do Estado «gordo» que lembrava, e bem, em 2009. E
até mesmo antes. A mesma senhora que em 2009
defendia que os doentes com mais de 70 anos deviam pagar hemodiálise, a mesma
senhora que defendia a suspensão da democracia por seis meses, a mesma que em
Novembro de 2010 dizia coisas como: «Não
há outra solução, pode haver umas medidas melhores, outras piores, medidas
assim, medidas assado, mas temos de percorrer este caminho [austeridade]; é o
início de um percurso longo e muito exigente. E que não pode ser desperdiçado
com manobras políticas; é preciso dizer às pessoas que este tratamento não é de
um ano, nem de dois. O Governo dá a entender que em 2013 já estamos todos bem e
não vamos estar todos bem; Portugal está refém dos credores. (...) Quem manda é
quem paga». A
mesma mulher que em Fevereiro de 2012 dizia que os «funcionários
públicos são pessoas com pouca sorte que trabalham numa empresa falida». Há
verdades que não se podem apagar: goste-se ou não de Manuela, concorde-se ou
não com ela, a antiga ministra das Finanças de Durão Barroso é um dos rostos
mais carismáticos de sempre da austeridade em Portugal. Mas agora parece ser
fácil colocar-se ao lado dos desgraçados. Do triste povo. Só que a memória do
povo não pode ser curta, e sobretudo, ver actualmente por aí muitos a tirarem o
chapéu a Manuela porque a senhora tenta passar uma borracha, de forma
populista, em tudo aquilo que é e representa, é dramaticamente penoso. «Somos
quem somos», aprendi com um estimado Professor Catedrático deste país que me
recuso a dizer o nome, por razões éticas e profissionais. Mas é isso que tem de
ser. Sermos quem somos porque, democraticamente, assim seremos intelectualmente
honestos. Custe isso o que custar e doa a quem doer. E não nos tornamos ao fim
de uma vida inteira pequenos «borreguinhas» de esquerda. Que faça bom proveito,
«borreguinha» Manuela!
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