Vistos Gold. O el dourado apetecível para o coração do Estado.
Na semana passada o País voltou a
confrontar-se com a teia de corrupção que lavra nas cúpulas do Estado a que
chamam democrático. Desta vez são os Vistos Gold, programa criado em 2012 pelo Governo, que
estão no centro do furacão. A medida
permite que um cidadão estrangeiro, fora da União Europeia ou do espaço
Schengen, obtenha uma autorização de residência temporária desde que realize
uma transferência de capitais num montante mínimo de um milhão de euros, crie
dez postos de trabalho ou adquira imóveis de valor igual ou superior a 500 mil
euros. Ao todo, e para já, são os 11 os detidos na designada «Operação
Labirinto» realizada pela Polícia Judiciária e Ministério Público. Entre eles, estão
à cabeça altos quadros do Estado, como o director do Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras, o presidente do Instituto dos Registos e Notariado e a
secretária-geral do Ministério da Justiça. Miguel Macedo, ministro da
Administração Interna, é a cara do Governo que sai fragilizada do caso, e que
viu a PJ fazer-lhe buscas no gabinete. E ainda que a PGR tenha colocado o
governante acima de qualquer suspeita, as suas ligações a alguns dos suspeitos deixam
marcas insanáveis num dos responsáveis políticos mais firmes deste Executivo. Corrupção
e lavagem de dinheiro são os crimes em causa. Crimes demasiado graves e
preocupantes para um Estado que nos exige cada vez mais, que nos retira
rendimentos auferidos com a honestidade do nosso trabalho.Este caso podia ser
só mais um que demonstra a vergonha dos que usam o poder para enriquecer. Mas
não é. Este é o caso que prova que a corrupção de alto nível nunca foi um
combate sério nestes últimos anos e como têm apregoado. Pedro Passos Coelho
devia pedir desculpa. Desculpa pela austeridade que colocou em cima do país.
Desculpa por ter descuidado a fiscalização e controlo de um programa de alto
risco como é o dos vistos dourados. Desculpa por continuar a mentir quando diz
que não há ninguém acima da lei neste país. Sempre houve e sempre haverá. Gente
nomeada através do critério da confiança política, homens e mulheres que acenam
com a honra quando chegam ao poder meramente por terem sido fiéis seguidistas dos
partidos e dos seus líderes. Seja qual for o desfecho da Justiça, não há dúvida
de que os jogos de influência, o abuso de poder e a corrupção lavram ao mais
alto nível num Estado cada vez menos de Direito e cada vez mais imoral. O povo,
esse, vai definhando, à espera de mais um dia, de mais uma dificuldade, de mais
um sonho adiado.
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