Os Ruas e Menezes deste País.





Fernando Ruas em Viseu. Luís Filipe Menezes em Vila Nova de Gaia. O que têm em comum os dois dinossauros do poder autárquico? À partida podia pensar-se que seria apenas o mesmo cartão de militante, o do PSD, assim como os anos que contam à frente dos destinos daqueles dois municípios. Mas, na verdade, há um terceiro elemento que os une. E que infelizmente unirá tantos outros desconhecidos candidatos. Falo da compra de votos. À descarada. Um distribui um cheque de 50 mil euros para a paróquia no adro da Igreja no final de uma missa de domingo, claro com os fiéis a assistir. O outro, recebe cidadãos portuenses na Câmara de Gaia para lhes pagar a renda de casa. É este caciquismo que é urgente erradicar e que, por mais esperança que continue a ter, sei que vai demorar muitas décadas a chegar. O mais dramático é que estes autarcas, experientes no terreno, chegam à fase crucial das eleições e insistem em cometer os mesmos erros de sempre, porque os jogos de poder local, as capelinhas partidárias nas concelhias e distritais, têm obviamente de continuar a ser alimentadas.Uma verdadeira reforma do poder local passa por um novo modelo de gestão, de eficiência de recursos e dinheiro público. Mas uma reforma administrativa autárquica não se fará nunca com sucesso, enquanto os dinossauros que comem tudo continuarem a exercer sobre estas populações, por si só frágeis, condutas menos próprias. Além disso as chantagens, psicológica e eleitoral, a que o povo, sem se aperceber sequer, é sujeito, deviam ser caso de crime público. Continuamos a viver no País do cacique e no Portugal política da mentalidade mesquinha. É pena que o estado do país não faça muita gente por aí perceber, de uma vez por todas, que a ética e a honestidade não se compram com votos, ganha-se no berço. Uma nota final para lamentar a morte do economista António Borges, actualmente consultor do Governo para o processo das privatizações. Independentemente do que representava no seio da direita liberal em Portugal, a verdade é que António Borges trilhou o seu caminho ideológico e tentou colocá-lo em prática ao serviço do que entendia ser o melhor. O melhor para ele não era, de todo, neste actual momento, o melhor para a sociedade portuguesa. Ainda assim, aos 63 anos ainda é cedo para a desgraçada bater à porta.



*Crónica de 26 de Agosto, na Antena Livre, 89.7, Abrantes.

Comentários

Mensagens populares