Esquerdas, direitas e sound bites.

Portugal continua em crise. Profunda. Ainda que todos os dias nos digam que o país está a recuperar. Mas, em jeito primaveril, começam a aquecer os discursos políticos rumo às eleições que estão para chegar. Num país normal a classe política e partidária devia estar a debater ideias, soluções e até mesmo consensos em matéria de legislativas. Contudo, e à boa maneira portuguesa, andamos entretidos com as presidenciais que só chegarão em 2016. A comunicação social ajuda à festa, trabalhando em cenários de especulação, fomentando ódios entre partidos e distraindo as pessoas do essencial. Entretanto, sem que o eleitorado dê por isso, vão-se formando uniões à esquerda a pensar nas legislativas que irão ditar o veredicto à política executada pela maioria PSD/CDS. Na verdade a esquerda parece andar à deriva, sem saber muito bem o que fazer, o que propor e como chegar lá. Enquanto António Costa chuta para Junho a apresentação do seu programa eleitoral, Joana Amaral Dias chega com o seu Ag!r repetindo argumentos anti-austeridade, com um discurso radical que soa bonito aos microfones mas que não representa absolutamente nada em termos de soluções e credibilidade. Pelo menos para já. O grande problema da esquerda em Portugal vem sempre ao de cima nas vésperas de cada acto eleitoral. Falo da sua incapacidade de se unir, de estabelecer pontes e de ultrapassar as diferenças do passado. É pena. Sobretudo num momento tão dramático e em que os portugueses tanto precisam dela. E quem lucra com esta fragilidade? Não duvidem que a direita aproveita cada farpa entre esquerdas, cada fosso que as separa, cada deslize em cada curva. Tristemente, as próximas legislativas correm o risco de serem as mais desinteressantes da história do país. Depois de quatro anos terríveis, e sob uma política económica e fiscal feroz liderada pela direita mais liberal, é a actual maioria que, ironicamente, se posiciona num lugar mais confortável, deixando a oposição anular-se a si mesma. O mais agoniante é olhar para o futuro e não termos alternativas de esperança em matéria de liderança política. Veremos como se comportará este ano o eleitorado, depois de uma Troika que arrasou, um Governo de direita que descarrilou e um Presidente da República que assinou por baixo. A História, essa, está escrita, nós é que ainda não a conhecemos.

*Crónica de 30 de Março na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR

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