Excepções na RTP e um problema europeu há muito esquecido.
Este
fim-de-semana ficamos a conhecer o salário do novo presidente da RTP. Gonçalo Reis
vai ganhar dez mil euros por mês, e como realçava a imprensa deste
fim-de-semana, são só mais 3 mil euros que o vencimento do primeiro-ministro. O salário foi
aprovado pelo Governo e assume um carácter de excepção, já que todos os
restantes gestores públicos ganham bem menos (no máximo 6800 euros), e que
decorre da revisão do estatuto do gestor público datado de 2012. O anterior
administrador da estação pública, Alberto da Ponte, optou por cumprir a lei. O que é
lamentável e insultuoso é o novo presidente da RTP dizer que no sector privado
ganhava quase o dobro. Para um país a braços com cortes de salários, com uma
taxa de desemprego dramática e com milhares de famílias em aflição, a posição
do novo líder da RTP é, no mínimo, uma afronta a todos os cidadãos. Os privilégios
que certas empresas públicas gozaram durante anos continuam a não desaparecer e
o verdadeiro sentido de sacrifício toca apenas aqueles que não têm por onde
fugir. No que respeita
a ética e justiça social, para este Governo também, estamos conversados. Também este
fim-de-semana ocorreu talvez o mais dramático naufrágio dos últimos tempos em
águas mediterrânicas. É o segundo
caso da crónica desta semana que há muito quero abordar, sobretudo pela
preocupação que devia provocar a todos os europeus. Todos os dias sabemos que há mais uma embarcação que naufraga. Todos os
dias centenas de pessoas, à procura de uma vida melhor na Europa, tentam a sua
sorte, em embarcações que, muitas vezes, têm o destino da morte traçado. A imigração ilegal que tem assolado o velho continente nos últimos anos é
um problema europeu, e não apenas italiano, ao contrário do que disse uma
responsável da Comissão Europeia, na semana passada. As guerras civis em África, o ébola ou simplesmente o sonho de
uma vida digna são as principais razões para milhares de pessoas
todos os dias arriscarem a vida, na maioria das vezes, trazendo apenas a roupa
no corpo e o coração cheio de esperança. O que faremos com estas pessoas? Como as integraremos? Que futuro
dar-lhes? São perguntas para as quais não há respostas, por ora. E o mais chocante é
ver que a Itália está, também por agora, sozinha na luta, contando apenas com
ajudas de ONG’s e algumas tropas europeias. A União Europeia não pode
lavar as mãos do problema, como tem feito até agora. Porque todos nós, europeus, temos a responsabilidade dar resposta a este
drama humanitário que está a bater-nos à porta. Veremos o que a União Europeia fará daqui em diante.
*Crónica de 20 de Abril, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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